Ah, o cinema francês. O cinema do amor, dos personagens intensos, dos roteiros dramáticos, da fotografia linda e trilha sonora maravilhosa. Sim, Meu Rei é um filme francês.
Até falar sobre o amor no cinema francês é diferente. Tem um charme, um clima que nenhum outro cinema no mundo consegue colocar em seus filmes. Tony (Emmanuelle Bercot) e Georgio (Vincent Cassel) se (re)encontram (eles já se conheciam antes de se encontrarem, mas nada importante) em uma casa noturna francesa e vão vivendo um emaranhado de emoções que culmina em uma paixão avassaladora e é quase impossível não se apaixonar pelo casal.
Mas, nem tudo são flores: ele é instável e ela psicologicamente frágil. Então o romance deles quando esta bem, esta muito bem, e quando esta mal… Bom, quando esta mal comparar com um inferno é pouco. Eles vão dos dias felizes para os tristes com uma agilidade que se piscar os olhos muitas vezes, você perde. O único a se dar conta que Georgio nunca foi um príncipe encantado foi Solal (Louis Garrel), irmão de Tony, porém, ela demora a perceber e a tomar uma atitude.
O filme em si trata com tanta sutileza um problema gravíssimo dos dias de hoje, que quase passa desapercebido aos olhos tanto dos outros personagens quanto do público: o relacionamento abusivo. Georgio é charmoso, lindo, com um ótimo humor, mas esconde por trás dessa parte da personalidade alguém persuasivo, calculista e manipulador. Em um momento, chama Tony de “vadia gorda” na frente dela, da cunhada dela (Isild Le Besco), uma amiga e seu irmão, e o único a achar o que Georgio diz ofensivo em cena é o irmão. Na sala de cinema parte do público tratou aquilo como piada.A delicadeza é um ponto favorável do roteiro: Tony é frágil emocionalmente, o roteiro em volta dela e que desenrola o filme trabalha em um ponto crescente com a personagem. Nós conhecemos, na verdade, duas “Tony’s”: a do romance com Georgio (que é mostrado em flashbacks) e a atual. E em todo momento, mesmo quando ainda não se sabe o que houve, é possível dizer que elas são a mesma pessoa porque o roteiro não quebrou isso: a personalidade dela continua lá.
A fotografia e a trilha sonora contribuem muito também ao filme. O bom enquadramento da câmera, os cenários, a escolha das luzes, dos espaços, o posicionamento em cena, tudo ali se casava e servia como um degrau para você entender o filme, os personagens, as histórias contadas. As músicas, além de lindas em sua maioria, fazem uma composição incrível com Meu Rei.
Vincent Cassel é sempre ótimo de se ver. Aqui ele esta com um personagem a altura de seu talento: lindo, mas manipulador e chantagista ao extremo. É tão sutil o caráter dúbio do personagem, mas quando concentra-se em suas atitudes, percebe-se que isso esteve ali o tempo todo. Cassel soube equilibrar os lados do personagem de um modo que tudo fosse crível. Emmanuelle Bercot também dá um show em cena. Sua Tony é frágil, passa por momentos de total desespero e total alegria, só encontrando o meio termo muito depois. Há um crescimento em sua personagem e Bercot faz um ótimo trabalho ao mostrar isso gradualmente, não como um passe de mágica.
A direção de Maïwenn é firme e sensível, por isso há tanta sutileza na hora de contar a que veio, mas ao mesmo tempo é intensa como seus personagens. A diretora, afinal, não trabalha com personagens ‘meio-termo’: eles sentem, sofrem, se apaixonam, vivem e quase morrem (ou talvez, morram e renasçam), e seu filme segue todos eles. Só não quase morre, porque não há espaço para isso aqui.
Meu Rei estreia no dia 22 de Setembro em todo território nacional.
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