Malhação – Viva a Diferença: seja bem vinda!

“Malhação” é aquela novela juvenil que todo mundo se acostumou e sabe que passa antes da novela das 18 horas há mais de 20 anos. Basicamente, em toda temporada de Malhação tinha uma mesma premissa: o casal de mocinhos que lutava contra os vilões. Não importando em que época estávamos, era sempre algo assim. Até este ano.

Atualmente, produzida por Cao Hamburger, mesmo diretor de pérolas da Tv Brasileira como “Castelo Ratimbum”, “Disney Club” e uma gigante lista de programas feitos para crianças e jovens, Malhação ganhou o subtítulo de “Viva a Diferença”, e ao invés de se concentrar em um casal que nada tem a ver com a realidade dos casais adolescentes de parte nenhuma do mundo, a novela decidiu concentrar seus holofotes em cinco diferentes meninas que estão a um passo de viver o resto de suas vidas.

Antes de focar sobre a virada que a novela teve, há que se falar sobre seus antecedentes. É verdade que em outras temporadas já havia sido discutido temas importantes. Em 1999, uma de suas temporadas mais populares apresentou entre seus personagens principais uma garota com Aids. Em uma época que pouco se discutia sobre o assunto, Érica, a vilã da temporada, descobria que havia sido infectada por um antigo namorado. Isso abriu as portas para que a novela discutisse abertamente sobre doenças sexualmente transmissíveis e mostrou como o preconceito podia afetar a vida de quem tinha e de quem se envolvia com uma pessoa portadora do vírus.

Em outro momento da novela, também foi discutido romance abusivo na temporada que foi ao ar em 2001. A personagem Drica, uma das estudantes centrais, tinha um relacionamento explosivo com seu namorado Robson (que ironicamente era interpretado por Dado Dolabella, que anos depois foi acusado algumas vezes de violência doméstica). Não era comum discutir sobre relacionamentos violentos, muito menos em uma produção que o público central era o juvenil, mas a novela vestiu essa camisa e foi a luta, por algum tempo.

A temporada passada, que começou em meados de 2016, tinha uma premissa promissora: a protagonista era uma menina negra. Seria a primeira mocinha negra da novela (teve um galã negro, mas que acabou perdendo o posto: o ator Micael Borges protagonizou uma das temporadas junto a Bianca Bin, mas acabou sendo deixado pra trás porque não convenceu como par romântico dela), e trazia grandes responsabilidades, mas nenhuma se cumpriu. Prometendo discutir abertamente o racismo, o que acabou indo ao ar foi mais do mesmo: uma mocinha insossa que tinha guerra declarada com uma vilã descompensada. O preconceito, que poderia ser muito mais forte e renderia histórias muito mais profundas, não durou nem duas semanas de transmissão.

Agora, nas mãos de Hamburger, “Malhação – Viva as Diferenças” traz uma mudança e tanto: personagens mais reais, mais críveis. Nada de vilãs maquinando o fim do namoro dos mocinhos, nada de situações surreais. Cinco meninas que nunca se viram antes serão protagonistas. Tudo bem que o começo foi meio ilógico, afinal, quantas adolescentes você já ouviu falar que fizeram um parto no meio do metrô? Mas, a história pode render. São cinco garotas juntas, não lutando umas contra as outras por causa de um rapaz. Em um momento em que estamos vivendo o Girl Power, a luta pela igualdade, o reconhecimento do feminismo não como o contrário do machismo, mas como algo que todos podemos ser, que todos podemos lutar, mudar o foco de uma novela que ainda é muito popular entre os jovens é um ponto importante.

Malhação tem um alcance enorme. Passa no momento em que adolescentes estão em casa. Obviamente, com Netflix, Tv a Cabo e agregados, chamá-los para Tv aberta é difícil. Mas, a novela tem uma premissa que promete conversar com algo que é recorrente na vida: as diferenças. Pessoas são boas e ruins todo o tempo, isso é apenas uma questão de escolhas, de oportunidades e de opções. É uma grande chance de vermos algo realmente interessante e com alguns pontos inovadores. Vem, Malhação 2017, pode entrar!