O Livro Sono do autor japonês Haruki Murakami não desperta no leitor o que alega seu título. Na verdade o escritor é bom demais para embalar qualquer pessoa naquela preguiça literária confortável que vem logo antes de dormir. Inquietante e instigante, a pequena obra é um conto curto, que além de bem elaborado possui belíssimas ilustrações em sua edição.
A história é simples, não fantasiosa, retrata uma mulher que vive de maneira tradicional, cuidando da casa, do filho e consequentemente do marido. Um dia ela — de quem não sabemos o nome — para de dormir. Simplesmente não consegue mais se distanciar desse mundo material e passa a ter longas horas de solidão reconfortante. São nesses momentos que ela pode ser exatamente aquilo que deseja, não o que precisam ou esperam dela. Assim, volta a fazer sua atividade favorita que a vida corrida a impedia de desfrutar: ler.
“É claro que durante a tarde, quando sobrava tempo, eu lia por meia ou uma hora. Mas não era exatamente uma leitura séria. Eu sempre me distraía pensando em várias coisas: sobre meu filho ou as compras…”
Então, por que essa história aparentemente tão simples consegue gerar muitos sentimentos no leitor? Porque é durante as madrugadas em claro que vamos conhecendo a personagem. O que ela escolhe fazer com o tempo para si mesma é sempre baseado no fato de que ela deixou de fazer isso anteriormente por algum motivo. Ou seja, ela foi deixando de ser ela mesma para ser a mãe, a esposa, a filha e qualquer outro papel que precisassem que ela cumprisse. Justamente por isso que o fato do autor não ter nomeado a personagem é tão impactante, ela não é alguém, mas sim uma função, não precisando de características individuais que fazem dela única. Já o final, tão abrupto, chega até ser sem sentido, deixando aquele que lê completamente extasiado. Afinal, o que aconteceu?
No entanto, ao tentar entender e retornar a alguns trechos da história, pode-se perceber que ela fala sobre uma forma muito sutil, muito comum, mas devastadora de dominação. É a opressão da individualidade da mulher em prol da família, uma escolha feita por ela, só que não exatamente assim. São pequenas decisões feitas junto ao outro sobre o que é melhor para a família, mas sempre com a esposa cedendo e abrindo mão, pois é o marido que trabalha, que chega cansado ou que não tem muito tempo. E assim a mulher vai se deixando para trás, esquecendo de si mesma diante do todo, assumindo funções que deixam de ser temporárias e passam a ser exigências. Afinal, é tudo para a família dar certo.
Enfim, o texto é delicado, sutil e verdadeiro até na forma como a personagem começa a ficar acordada. Obviamente, nesse sentindo de nunca dormir a história beira o fantástico. Mas mesmo essa questão é bem explorada e trabalhada pelo autor e supre qualquer indagação ou descrença que possa surgir no leitor.
“De um modo geral, todos os dias eram praticamente iguais, uma mera repetição. Eu escrevia um diário, mas se eu me esquecesse de escrevê-lo dois ou três dias já não sabia mais diferenciar um dia do outro. Se eu trocasse o ontem pelo anteontem, não faria diferença alguma.”
Por Mariana Baptista
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Uau! Livro extremamente instigante. Uma história baseada em fatos reais onde o que se sonha permanece sendo um sonho. Irei ler com certeza.
Talvez o ” estar acordado” não passe de um sonho, que deixamos de sonhar quando dormimos.
Fiquei interessadíssima em ler esse livro. Conheço o autor mas nunca tinha ouvido falar nesse título.
Concluo que deve valer pelo não só pelo prazer da leitura mas também pela reflexão sobre a vida da personagem, que parece representar muito bem a rotina de muitas mulheres ainda nos dias de hoje.
Nossa, que história! A sacada de não dar nome à mulher foi ótima! Estou muito curioso para conhecer essa história, já vou colocar em minha lista de prioridades!!
Parece ser uma ótima leitura, pra um exercício de empatia, também. Me interessei.
Análise bem interessante.
Acho difícil não se identificar com essa história… Mesmo quando não em casa com a família, essas privações nos forçam a tantos lugares difíceis, não é?!
Me lembrado um pouco o filme “Clube da Luta” onde o personagem do Edward Norton não tem nome, pelo mesmo motivo simbólico… Mas nesse caso muito mais atrelado ao consumo.
Ótima resenha, Mari.
Adorei a resenha, Mari!
Olá, mais um livro que vai ir para a minha lista de leituras.
Já tinha visto ele por aí mas não sabia do que se tratava.
Achei tristemente interessante essa questão de a personagem não ter tempo para ser ela mesma, até parar de dormir.
Olá, tudo bem?
Nossa que livro interessante, e ainda baseado em fatos reais? Amei a premissa. Dica super anotada.
Amei também a sua resenha muito bem escrita e instigante, Parabéns!
Nossa, nem conhecia esse livro, mas parece ser um livro que nos faz pensar! Adoreiii! Vou dar uma outra pesquisada.
Oi, tudo bem?
Não conhecia o livro mas gostei da premissa e achei bem legal o fato de não sabermos o nome da personagem.
Bjs
Análise bacana e dica bacana também. Não conhecia o livro, mas achei interessante pela forma como você o retratou. Beijos e sucesso!
A história me deu muita vontade de ler, parece ser a realidade de muitas mulheres, essa omissão do que ela é de fato por falta de atenção do esposo.
Caramba, que história bacana! Fiquei com vontade de ler. Ainda mais por retratar um tema tão atual, tão presente em nossas vidas e que infelizmente passa despercebido aos nossos olhos, porque é algo enraizado, logo “comum”. A sociedade cobra tanto a mulher, exigem tanto que ela cumpra com as suas “obrigações” impostas culturalmente, que muitas deixam de ser verdadeiramente quem são. Bom repensar, até porque, quem era nossas mães antes da gente? Do que elas gostavam de fazer e que precisaram deixar de lado para cuidar da casa, de nós, da família? Adorei! 🙂
Oiii, tudo bem?
Que conto interessante!! Dica super anotada! Fiquei bastante curiosa para saber como ele se desenvolve 🙂
Beijos!
https://leelerblog.blogspot.com.br/
Oie Mariana!
Nossa! Ainda não conhecia esse livro mas a sua resenha me fez ficar bem interessada. Acho que nunca me deparei com um enredo desse tipo e já anotei a dica.
Essa questão da mulher dona de casa, da culpa q sentem, várias coisas q a sociedade obriga… sempre vai ser um tema atual e interessante.
Gostei bastante da sua visão sobre a obra. Parabéns!
Bjo
Olá, tudo bem?
Gostei bastante do enredo do livro e dá sua resenha. Adorei saber um pouco mais sobre o livro.
Bjs
http://www.blogparadaliteraria.com.br
Ótima resenha, não conhecia o autor nem o livro, achei a capa interessante mas a história em si não me encheu os olhos então desta vez irei deixar a dica passar, mas irei indicar a algumas pessoas que sei que irão aproveitar bastante.
Beijos
Oie
eu nunca li nada do autor mas confesso que a curiosidade é grande é um daqueles autores que estão na lista para ler antes de morrer, adorei sua resenha e não conhecia esse livro dele ainda
beijos
http://realityofbooks.blogspot.com.br/
Não conhecia o livro, muito menos o autor. Adorei o post exatamente por isso. A Literatura japonesa não nos alcança tanto. Quando se fala em japão só vem mangás na mente. Bom saber que é mais do que isso.
Olá!
Nossa eu adorei a temática do livro. Ando procurado saber muito mais sobre isso… minha família é predominante feminina e vejo o quanto todas as mães se dedicam aos seus filhos (meus primos e tios) e mal se cuidam, mal se dão tempo… É preciso ter tempo para si, para as próprias prioridades… entendo que os filhos tb são prioridade, mas vc tem que se amar antes e estar bem (saudável) para cuidar deles.
Adorei a premissa do livro, vou marcá-lo no skoob para ler!
bjs
🙂
OIeee
Eu morro de vontade de ler Murakami, minha amiga e colunista lá do blog já fez umas resenhas maravilhosas sobre além de me indicar mais profundamente em particular e despertou meu interesse.
ESSe livro eu não conhecia ainda, essa edição está maravilhosa.
Beijoos