48ª Mostra de Cinema em São Paulo | Pílulas do 2º Dia

Guerra, filosofia e capitalismo são os temas dos filmes vistos no segundo dia

No segundo dia da 48ª Mostra de Cinema em São Paulo, vimos mais três filmes: Um romeno, um estadunidense e um iraniano. Fizemos críticas rápidas sobre eles, que você pode ler abaixo.

Oito Cartões-Postais da Utopia | Propaganda e Capitalismo

O provocador cineasta romeno Radu Jude retorna com mais um de seus filmes à 48ª Mostra de Cinema de São Paulo.

Agora, com a colaboração do filósofo Christian Ferencz-Flatz, Jude elaborou “Oito Cartões-Postais da Utopia”, um documentário montado a partir de numerosas propagandas antigas da televisão romena. Em setenta e um minutos, dividido em oito capítulos (os cartões-postais do título), há uma variedade de conteúdos, desde anúncios de sabão em pó até chamadas para investimentos bancários e títulos do governo, repletos de promessas de riqueza e sucesso.

As propagandas servem como um reflexo de sua época, evidenciando sexismo e diversas formas de preconceito, mas todas compartilham um elemento comum: a ânsia pela promoção do capitalismo. Assim, Jude traça a história de seu país por meio desses fantasmas esquecidos em arquivos. O que importava para eles era a venda do produto, independentemente do que era exibido na tela. Um documentário provocativo que instiga à reflexão, mesmo que sua matéria-prima consista apenas em recortes de algo quase esquecido nos dias atuais: a televisão.

Nota: 3/5

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O Maior Bocejo da História | A Filosofia Platônica no Irã

Como é tradição, a Mostra de Cinema de São Paulo deste ano apresenta um expressivo número de filmes iranianos em seu catálogo, entre os quais está “O Maior Bocejo da História”. Nele, um homem solitário começa a ter sonhos recorrentes envolvendo uma caixa de moedas valiosas perdida em uma caverna. Assim, ele recruta um jovem órfão para auxiliá-lo na busca por esse tesouro.

A célebre alegoria da caverna de Platão serve como referência para a obra de Aliyar Rasti, pois o protagonista adentra a caverna e se vê aprisionado em uma ilusão, assim como aqueles que contemplam as sombras na alegoria do filósofo grego. Seu cético ajudante, por sua vez, toma o caminho oposto e prefere caminhar pelo mundo real.

Entretanto, o grande obstáculo de “O Maior Bocejo da História” é que o conteúdo intrigante de seu roteiro é comprometido por um formato que gera cansaço no espectador. Em síntese, trata-se de um road movie que fala de solidão, misticismo e religião, filmado de forma excessivamente lenta, e com personagens que não se revelam suficientemente cativantes.

Nota: 2/5

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Os Malditos | O Naturalismo da Guerra

Os EUA são um país forjado pela guerra, e, por isso, cada indivíduo que nasce em suas terras carrega um pouco dos traumas resultantes desses conflitos históricos. Um dos mais significativos é a Guerra de Secessão, na qual o Sul e o Norte lutaram pela hegemonia.

Em “Os Malditos”, o cineasta italiano Roberto Minervini retrata um batalhão de soldados nortistas explorando um território fronteiriço completamente desconhecido para eles. Essa história, se contada por Hollywood, provavelmente estaria repleta de conflitos e atos de heroísmo, já que o Norte é geralmente considerado a região dos “mocinhos” do embate. Contudo, por se tratar de um diretor estrangeiro, o filme é construído de maneira extremamente naturalista, desde sua fotografia, aparentemente desprovida de filtros que tornariam a obra mais “cinematográfica”, passando pelas atuações sem firulas dos atores, até a preocupação em evidenciar as divagações existenciais dos soldados e os atos de violência nos quais se envolvem.

Em planos longos, os personagens lutam para sobreviver, e isso serve para que Minervini explore a condição humana. O problema é que ele o faz de maneira um tanto banal, sem trazer grandes inovações em sua narrativa.

Nota: 3/5

_{Imagem em destaque do filme “Os Malditos”: Divulgação}