Em “A Última Entrevista de Marília Gabriela”, a peça traz a própria e icônica jornalista, atriz, entrevistadora, junto ao seu filho Theodoro Cochrane, no que se leva a crer ser o último ato de sua mãe famosa.
Mas nem tudo é o que parece nesse jogo de espelhos que se inicia como uma certa pantomima, uma brincadeira descontraída entre mãe e filho, na qual alguns passos da carreira de Marília são narrados e então uma inversão de papéis em que um se torna o outro (o filho se torna a mãe e a mãe se torna o filho) é combinada para deixar as coisas mais interessantes.
Pois bem, é aí que a peça realmente revela alguns de seus propósitos!
Questões como maternidade, o peso de ser o filho de uma pessoa famosa (que não pediu para nascer), e as consequências que envolvem amor, afeto, privilégios, legado, dores e dissabores, tudo é colocado no liquidificador para nos presentear com o que os dois intérpretes tem de melhor.
Leia Mais: Últimas semanas para conferir “Leci Brandão – Na Palma da Mão” no Teatro Ipanema Rubens Corrêa
De um lado, um humor lapidado por críticas ácidas e autodepreciativas, do outro a suprema confiança de quem tem uma história, um legado, mas ciente de que o tempo (sempre ele) cobra o preço de todas as escolhas. E que o etarismo, o machismo e a nossa sociedade podem cobrar caro o preço do sucesso, da ousadia, da maestria e de uma profissional avant guarde como Marília, e que seu filho é “obrigado” a viver com as conquistas da mãe e seguir seu próprio caminho, com seu próprio talento.
A partir de um momento na peça, quase tudo é questionado, combatido, repetido, pois a vida se presta a esse papel.
E claro, o que começa como espetáculo, se transforma em conflito em uma verdadeira, dolorosa, convincente e espantosa lavagem de roupa suja entre os dois artistas, em um momento bem tenso e muito bem colocado na peça, que nos coloca para pensar até em nossas próprias relações. Tanto de nos dar chances, quanto oportunidades de perdê-la e continuar a nos manter nas mesmas espirais de erros e paranóias que nos acompanham durante todo tempo.
Leia Também: A Cena (Não) Muda | Mães e filhas negras em tempo(s) de repressão
E como é bem marcado o tempo desse espetáculo.
Um espetáculo preciso! Com uma iluminação que registra com rigor e inteligência o movimento dos atores no palco. O figurino austero, em preto e branco, criado pelo próprio Theodoro, e um cenário que remete aos estúdios que tantos anos serviram de “palco” para Marília Gabriela são impecáveis. Com câmeras reais que transferem aquela imagem mítica para telinha, com televisores nos cantos do palco de um tempo em que o conceito de smart tv não existia e, com certeza, não fazia parte da vida dos expectadores da peça.
Ser uma pessoa-legado não é fácil! Conviver com esse tipo de pessoa também não é, seja um parente de sangue ou somente alguém próximo. Claro, há toda uma questão do privilégio de viver ao redor dessas pessoas especiais. Todo o peso, as cobranças, tanto quanto ser essa pessoa. Porém, pelo viés da peça, há alternativas, há a vida que, indubitavelmente, tem quer ser vivida.
Compre Agora: História mundial do teatro
“A Última Entrevista de Marília Gabriela” é um verdadeiro triunfo, estendido a todos os envolvidos, que justifica cada reflexão sendo ao mesmo tempo uma excelente diversão.
E não é esse um dos ideais da boa arte?
Obs: Uma boa dica, é caprichar nas perguntas para depositar na caixinha provocadora que fica na bilheteria do Teatro Unimed, pois na sessão em que fomos convidados, em algum momento, ela pode ser lida no palco e poderá realmente ser respondida. Outra dica importantíssima: nessa mesma sessão em algum momento você, caro ou cara mortal pode ser entrevistado pela própria lenda em pessoa, então prepare-se para uma outra surpresa que pode emocionar e lhe deixar impactado com o final!
Imagem Destacada: Divulgação/Rega Início Produções
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.