Estreia em 31 de outubro o filme “A Vilã das Nove”, “melodramédia” como definiram à Woo Magazine o próprio roteirista (junto André Pereira, Maíra Bühler, Gabriela Capello) e diretor Teodoro Poppovici, com grande elenco capitaneado por Karine Teles num registro sobre construir uma família, abandono e ressentimentos.
O filme apresenta a história de Roberta, cujo passado misterioso ameaça vir à tona quando em uma confraternização começa a ver na televisão justo na novela das nove, a mais popular no país, fatos que são muito parecidos e às vezes até iguais a sua vida.
No decorrer da história vamos acompanhando em flashbacks bem colocados as motivações de Roberta (será esse mesmo o seu nome?), o estado de sua vida e o que essas descobertas exibidas nas novelas impactam no seu cotidiano.
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E é na composição sensível, arredia nos sentimentos e às vezes dissimulada da atriz Karine Teles que nos conduz pelo filme, sempre como alguém que está a um passo de ser descoberta e revelando o que de melhor essa obra nos oferece.
A premissa é interessantíssima, intrigante, esperta, nos conecta como brasileiros ao que é de mais básico em temos de memória afetiva, diversão e do quanto a novela do chamado horário nobre alcança as pessoas, instiga curiosidades de como se dá essa arte e isso, mesmo em tempos de streamings onde houve diminuição da audiência, mas ainda hoje há milhões de pessoas assistindo e que dependendo do sucesso da obra ainda traz uma ou outra repercussão nacional.
Porém, em termos de bastidores da reveladora novela A Má Mãe, além das piscadinhas com quebra da quarta parede e um incidente nas ruas que poderíamos imaginar referente a competência de uma atriz interpretando uma vilã nacional (mesmo em uma interpretação caricata) pode impactar em sua vida civil, não sobra muito a respeito do que os espectadores esperam para se envolver nesse núcleo.
Pois até a falta de inspiração do principal escritor da novela, interpretado pelo grande Antônio Pitanga, que inicialmente recebe com entusiasmo a ideia para recuperar a audiência em um produto tão importante, é levado com uma certa falta de inspiração e uma impressão de incompletude, mesmo que venha de uma pessoa que demonstra uma estranha pessoalidade com a história, pois é a filha abandonada por Roberta quem fornece seus detalhes e pontos de vista mais íntimos da sua vida.
Ou seja, claro que há toques e alfinetadas na forma de se fazer novela no país, e a trama é de muita inventividade inclusive com morte cerebral revertida (!?) em nome de continuidade da história, mas não se tem um estofo do motivo principal que leva ao início da trama: o motivo do abandono da família.
Se num momento entendemos o quanto pode ser estafante e sufocante a rotina de uma mulher em um casamento onde há momentos opressivos, infelizes, que podem gerar incompletudes e episódios de depressão, por outro vemos que essa rotina pode fazer parte da psique da protagonista, pois no começo da história está em um momento de divórcio e no decorrer do filme realiza outro ato de desistência em um relacionamento, mas não há um desenvolvimento desse traço de personalidade.
Claro que as pessoas podem e devem colocar fim em relacionamentos quando bem entenderem, mas faltou justificar, mostrar oportunidades de outras pessoas serem ouvidas por Roberta.
O que mais se destaca são as interpretações como a de Karine, que leva a trama adiante, mas o melhor registro é Alice Wegmann, que traz força, ressentimento e ao mesmo tempo vulnerabilidade como a primeira filha da protagonista que mais sofreu com as atitudes da mãe.
Com tiques como o roer de unhas, postura acanhada e um olhar triste de quem está com um pedaço faltando, a personagem de Alice é a mais crível e identificável da história.
Destaques também vão para Camila Márdila que com grande precisão consegue distinguir sua atuação e se divertir entre a caricata atriz e a personalidade deslumbrada e pelo uso sensível e excelente em duas cenas emblemáticas da maravilhosa música Pessoa (de Cláudio Rabello e Dalto) nas interpretações da grande Marina Lima e do ator Negro Léo.
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Uma boa diversão como uma ótima premissa, filmada como se fosse uma novela no seu melhor sentido, mas com pouca profundidade.
Filme assistido na 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Imagem Destacada: Divulgação/Star Distribution Brasil
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