A influência religiosa na política brasileira é antiga e amplamente reconhecida pela população, afetando tanto a direita quanto a esquerda. No entanto, durante o governo de Jair Bolsonaro, que se estendeu de 2018 a 2022, observou-se não apenas uma influência, mas um controle total sobre as agendas e decisões mais sensíveis. O homem que manipulou o títere de carne, denominado Messias, foi o poderoso líder da Assembleia de Deus, pastor Silas Malafaia. É importante ressaltar que esse controle foi velado, com Malafaia operando nos bastidores do Palácio da Alvorada e influenciando os fieis nos púlpitos de suas igrejas. O pastor que governou indiretamente o Brasil é uma das figuras centrais do documentário “Apocalipse nos Trópicos”, da cineasta Petra Costa. Neste trabalho, Costa traça um árduo percurso de quatro anos, a partir da vitória de Bolsonaro, em busca de compreender se o país pode estar à beira de se tornar uma teocracia ou se já o é.
O filme revela eventos perpetrados pela extrema-direita antes e durante o governo de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que apresenta Malafaia discutindo as decisões do presidente em sua residência, na sede do governo ou em seu luxuoso jatinho. Ostentando uma riqueza material de poucos, o pastor, com seu conhecido estilo brusco, expressa suas opiniões sobre o que deve ser feito para que, em sua perspectiva, o Brasil se torne um país melhor. Isso envolve a erradicação dos comunistas, que supostamente dominam o povo com uma ideologia perversa, e a inserção de Deus na vida política de todos os brasileiros. No filme e na realidade, essa retórica culminou em um único evento: o ato vandálico de 8 de janeiro de 2023, quando os “enviados divinos” e os “combatentes contra o comunismo” invadiram e devastaram o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. Assim, parte do trabalho de Malafaia e de Bolsonaro foi realizado.
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“Apocalipse nos Trópicos”, com a narração serena e delicada da própria Petra Costa, proporciona uma plataforma para esses agentes do caos com o intuito de alertar sobre os perigos da inserção da religião em uma democracia considerada laica. Presidentes como marionetes de pastores e cultos evangélicos sendo realizados no Congresso Nacional são apenas o que a câmera pôde capturar. O problema mais grave reside nos bastidores mencionados anteriormente, onde as políticas podem começar a ser moldadas, e o pior: a partir de “apocalipse”, a parte mais obscura da Bíblia.
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Tudo isso transforma o filme da cineasta mineira em um registro histórico e reflexivo significativo; no entanto, em termos da apresentação dos fatos, pode ser pouco impactante para o público brasileiro, uma vez que tudo o que é mostrado foi amplamente noticiado pela televisão e pelas redes sociais na época dos eventos. Essa constatação leva à conclusão de que o documentário é uma obra voltada para exportação, que servirá para informar os estrangeiros sobre como funciona boa parte da política no Brasil. Não se trata, porém, de um demérito, mas de um ponto fraco que merecia ser destacado.
Este Filme foi visto durante a 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Imagem em Destaque: Divulgação/MUBI
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