Desilução em resistência de um mestre
Francis Ford Coppola é, indubitavelmente, um dos mais proeminentes nomes do cinema mundial. Ele se situa no mesmo panteão de Alfred Hitchcock, John Ford e Steven Spielberg; no entanto, Hollywood há muito tempo o relegou ao esquecimento, tanto que nenhum estúdio aceitou financiar seu novo projeto, “Megalópolis”, que só ganhou vida porque Coppola investiu seus próprios recursos. É uma realidade triste, mas o experiente cineasta não se lamenta publicamente, embora critique severamente a indústria contemporânea, a qual considera obcecada pelo lucro. Contudo, enquanto ele é esquecido em sua terra natal, no Brasil é amplamente reverenciado, como ficou evidente durante sua visita ao país para promover seu novo trabalho.
Em um teatro lotado em São Paulo, Coppola solicitou que houvesse menos perguntas dos jornalistas e mais do público. Em respostas que oscilaram entre o humor e um certo grau de melancolia, ele refletiu sobre arquitetura, política, sociedade e, principalmente, cinema. Sua desilusão com Hollywood foi manifesta em alguns momentos, mas ele deixou claro que ama essa indústria, que, afinal, o forjou.
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Ele também comentou bastante sobre o Brasil, mencionando a influência arquitetônica de Curitiba em “Megalópolis” e recordando Glauber Rocha, que acolheu em sua casa em São Francisco, na Califórnia, durante o regime militar:
“Glauber chorou nos meus braços, angustiado por não saber se um dia poderia retornar ao seu país. Ele voltou e morreu aqui. Como um diretor que amava tanto sua nação poderia correr esse risco?”
Ao referir-se a Glauber e citar “Cidade de Deus”, Coppola demonstrou um notável conhecimento do cinema brasileiro, o que é incomum entre cineastas estadunidenses. No entanto, isso é compreensível, dado que ele pertence a uma época em que o cinema hollywoodiano não estava voltado apenas para si mesmo.
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A conversa com o público durou uma hora e meia, mas, se dependesse do cineasta, o tempo se estenderia por muito mais. Esse intervalo, entretanto, foi suficiente para perceber que, por trás do grande artista, Coppola é, acima de tudo, um sonhador que imagina utopicamente uma sociedade aprimorada e um cinema grandioso e duradouro, em contraposição ao que é produzido atualmente, o qual ele definiu nos minutos finais da conversa:
“Hoje em dia, os filmes são como ‘fast food’; desejam que sejam consumidos como a Coca-Cola, ou seja, algo que precisa ser degustado rapidamente. Arte não é Coca-Cola. Atualmente, quando assistimos a um filme, tudo depende da porta que ele vai abrir. As pessoas olham para o filme que acabei de fazer, todos sabem quanto custou e, por isso, pensam que nunca dará lucro, mas ele pode render por um longo tempo, como ocorreu com ‘Apocalypse Now’. A questão é ajudar o público a encontrar a porta certa.”
Por fim, quer se queira, quer não, o mestre tem razão.
Imagem em destaque do documentário “Francis Ford Coppola – O Apocalipse De Um Cineasta”: Divulgação/MUBI
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