O que sempre estará presente no universo Star Wars é o seu grande tema central: a família. Rey (Daisy Ridley) é assombrada por não ter conhecido seus pais, Kylo Ren (Adam Driver) abraça ainda mais o lado negro da força por causa dos fatos ocorridos entre ele e seu pai, e Luke e Léia sofrem pela distância que os separa, além de seus arrependimentos do passado. Todo o aparato sci-fi usado serve para apoiar essas histórias intimistas. Claro que há a sempre bem vinda mensagem antifascista: é preciso derrubar o onipresente repressor, que esmaga a liberdade dos indivíduos com seu poderio bélico. Também já virou ponto comum a semelhança do império, aqui a nova ordem, com o Nazismo. As sequências de batalha em terra também remetem à primeira guerra mundial, a guerra travada em trincheiras.
A direção e o roteiro de Rian Johnson são os elementos que formam a excelência de “Os Últimos Jedi”. Batalhas de naves, lutas com sabres de luz e tiroteios de blasters são executados de forma primorosa. A já esperada infiltração de sabotagem em alguma instalação da primeira ordem é realizada, mas com um desfecho fora do comum em relação a outras já vistas nos filmes anteriores. Criaturas e cenários são belamente trabalhados, honrando a tradição de Star Wars nesse quesito. No final do terceiro ato nos é apresentado um planeta salino em sua superfície que “sangra” assim que é tocado por soldados ou naves de batalha. Abaixo do sal há uma camada vermelha, representando toda a violência de uma guerra. A fotografia nas sequências passadas nesse mundo merecem premiações no começo do ano que vem.
Formado e afiado por J.J Abrams, o elenco novamente dá um show. O carisma de Daisy Ridley é apaixonante, a fúria de Adam Driver é palpável, assim como são enigmáticas as intenções de Luke Skywalker, interpretado por um maduro Mark Hamill. John Boyega parece mais seguro em seu papel e Carrie Fisher nos brinda com sua última aparição como princesa Léia. Todas as dúvidas que se tinha sobre como ficou as participações da personagem após a morte da atriz são sanadas, já que o roteiro não foi picotado por conta de sua ausência. Se houve algum tipo de substituição por meio de CGI não é possível perceber. C3PO, R2D2 e BB-8 são a cereja do bolo nisso tudo. Tão conhecidos já antes da estreia, os porgs são apenas fofos e engraçados, mas irrelevantes para a trama. A decepção fica por conta de Snoke, não por causa da atuação sempre competente de Andy Serkis e sim pela falta de sentido com que o roteiro trata seus propósitos e seu destino. De Snoke não é possível falar muito para evitar spoilers.
Tudo descrito acima pode ser sintetizado por uma única palavra: paixão. A paixão que tanto fez falta nos episódios I, II e III de George Luca e que é de suma importância para Star Wars. Em “Os Últimos Jedi” as lágrimas do espectador são de emoção. A emoção por algo que, mesmo se passando em uma galáxia muito distante, parece real, não apenas uma simples simulação de vida criada por computador. Os heróis estão ao alcance e é isso que dá folego à resistência. O mito dos Jedi pode inspirar guerreiros futuros, assim como o faz em crianças pobres que são exploradas por comerciantes de armas. Aquela escória maltrapilha (uma clara referência a Oliver Twist) não mais se ajoelhará aos tiranos e se lembrarão de Luke Skywalker quando levantarem as armas da revolução. Star Wars nunca foi tão atual, a política é discutida nas entrelinhas e faz com que a nova geração de fãs se pergunte a respeito dos vilões de seu meio. Aqueles que não usam sabre de luz vermelho, mas são mais perigosos que Darth Vader.
Imagens e Vídeo: Divulgação/Walt Disney Studios/Lucas Film
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