Em tempos de fake news, nada melhor do que explorar com muita comédia o papel da mentira nas relações amorosas e pessoais, como faz o texto do dramaturgo francês Florian Zeller para a peça “A Mentira”, que retorna ao circuito carioca no Teatro Claro Rio após fazer sucesso em 2019. O texto é leve e não muito inovador, contudo, o jogo dos atores em cena valoriza a comédia arrancando muitas gargalhadas da plateia. Confira a crítica do espetáculo:
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Nos casamentos, uma das promessas é ser fiel em qualquer circunstância da vida a dois. Porém, sabemos bem que nem sempre é possível dizer a verdade a todo tempo na vida em sociedade. Logo no início, Alice (Danielle Winits) tenta desesperadamente que o marido Paulo (Miguel Falabella) invente uma desculpa para cancelar o jantar com o casal de amigos Laura (Alessandra Verney) e Michel (Frederico Reuter). Já nesse início, uma sucessão de mentiras tenta entrar em cena, até que finalmente aparece uma verdade. Alice revela querer cancelar o jantar por ter flagrado Michel com outra mulher num shopping. Paulo fica pouco surpreso, o que a faz achar que ele já sabia.
Quando o jantar começa, vemos em cena quatro atores em grande forma. O destaque absoluto é, sem dúvidas, o veterano Miguel Falabella (que também assina a direção e a adaptação do texto). A cada expressão do ator você acredita naquilo que ele quer passar, e quase se oferece para tomar uma taça de Château Babie com ele. Daniele Winits deixa claro que nasceu para a comédia, como uma mulher irritada que busca a todo tempo contar a verdade. Alessandra Verney e Frederico Reuter completam o time fazendo um bom trabalho diante do que foi reservado a eles.
O texto não escapa de alguns clichês do jogo verdade-mentira nas relações amorosas. Está lá Paulo, que defende que a mentira pode ser uma delicadeza em alguns momentos, e cabe a Alice fazer o contraponto a isso a todo o momento. Além disso, aparece brevemente a tal cumplicidade masculina quando o assunto é traição. Como ponto positivo, vale dizer que a peça é muito mais sobre nossas atitudes diante da verdade e da mentira, o que é bem melhor do que se posicionar em defesa de uma ou outra.
A cenografia também merece destaque por apresentar uma bem montada sala de estar onde a maior parte dos eventos acontece, mas não se limita a isso. As portas realmente levam a outros ambientes e garantem o dinamismo em cena, principalmente quando Paulo e Alice brigam e se dividem entre quarto e sala. Após a cortina se fechar, os atores retornam revelando os bastidores de alguns momentos do jantar, onde aparece também a cozinha do apartamento. A cena é divertida e pode agradar aqueles que preferem sair de um espetáculo com tudo resolvido. Contudo, pode desagradar aqueles que preferem algum espaço para imaginação.
Por fim, elogiar o trabalho de direção de Falabella é um tanto quanto redundante, que já amplamente reconhecido no teatro. Em “A Mentira”, o ator e diretor se destaca por imprimir um ritmo que ressalta a química do elenco em cena, sem perder a leveza proposta pelo texto. Por fim, a peça é um entretenimento despretensioso, mas que pode render uma boa discussão para os casais sobre o bônus e o ônus da mentira ou da verdade.
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