A personagem que dá o nome ao longa é Paula Maxa (Anna Mouglalis), uma atriz conhecida em Paris por ser morta de maneiras diferentes todas as noites nos palcos do Grand Guignol, espetáculos esses que têm atraído tanto a curiosidade como a revolta do público. Quando a violência no bairro aumenta, Jean (Niels Schneider), um jovem repórter, pesquisa uma relação entre as apresentações e os assassinatos que ocorrem na cidade, ao mesmo tempo em que desenvolve um relacionamento com Paula e descobre que alguém tem planos para assassiná-la de verdade.
Com uma história dessas, é difícil não enxergar a influência dos giallo – suspenses de assassinato italianos dos anos 1970 – no longa, tanto por seus personagens, principalmente o jornalista investigativo, quanto pela sua trilha sonora de jazz experimental. Porém, ao contrário do gênero ao qual paga tributo, o roteiro de “A Mulher Mais Assassinada do Mundo” não esconde muitos mistérios em sua obviedade.
Sem saber se é um suspense ou um drama, o script falha em ser ambos. Suas tramas e subtramas parecem um amontoado de ideias mal aproveitadas – algumas que são abandonadas ao longo do filme – e nenhuma das discussões que parece propor têm algum propósito. “O que acontece na sua cabeça é pior do que o que acontece no teatro” diz um dos intérpretes para um grupo de cidadãos que protestam na frente do local, parecendo abrir espaço para uma crítica sobre censura, tema que, infelizmente, é esquecido logo depois.
Se partes da história parecem existir sem motivo, a direção de Franck Ribière é um acompanhamento perfeito de técnicas gratuitas. Vários elementos são utilizados apenas uma vez durante a produção e parecem totalmente deslocados: os jump cuts na cena inicial, o lettering que apresenta a personagem principal escrevendo seu nome na tela, um diálogo no qual Paula quebra a quarta barreira e fala com a audiência, um voice-over explicativo desnecessário, enfim, um turbilhão de superfluidades.
Onde o longa se destaca porém, é em seu design, que é conciso ao representar a versão de Paris dos anos 1930 em todo seu glamour e sujeira. Também são notáveis os efeitos práticos, que são tão grotescos e eficientes como em uma produção slasher dos anos 1980, com a notável exceção de uma cena que usa de computação gráfica – que em si, não seria um problema – para representar um dos efeitos utilizados no palco pela trupe do Grand Guignol.
Tudo isso é amarrado com uma fotografia que remete bastante ao gênero noir, utilizando de um alto contraste entre sombras e cores fortes. Essa referência, porém, não é sempre bem-sucedida, já que diversas cenas parecem ter sido modificadas na pós-produção para ficarem mais sombrias e acabam tão escuras que são de difícil compreensão. Já nas cenas de flashback, acontece o contrário: o branco é estourado demais, e as sequências também se tornam ininteligíveis.
“A Mulher Mais Assassinada do Mundo” parece mais um emaranhado de ideias diferentes do que algo que segue uma linha de raciocínio lógico. No fim, é difícil levar a sério um longa que coloca uma cartela explicando o que aconteceu com seus personagens na vida real e contradizendo o final do próprio filme. A produção é mediana e decepcionante, mas a essa altura do campeonato, ninguém espera mais do que isso de um “Original Netflix”.
https://www.youtube.com/watch?v=zI7mRFHuWEI
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Putz, eu curti o filme. Vi um monte de coisas que não acreditei que veria, levantou umas questões sobre horror bem legais, e pra mim (obviamente) ele cumpriu o papel direitinho que era: entreter. Na verdade ele me deu muito mais que isso, mas aqui não é meu espaço hehe. No mais, concordo que pareceu que faltou tempo pra desenvolver, talvez ele funcionasse melhor como serie.