Sem nenhum dinheiro, Charley rouba gasolina e comida, mas vê o motor da velha caminhonete parar de funcionar. Por isso, segue a viagem a pé, junto com o seu companheiro, sem monta-lo é claro, porque, afinal, os amigos precisam ser tratados com respeito. O objetivo é chegar até a residência de sua tia, que cuidou dele na infância. Como road movie “A Rota Selvagem” funciona satisfatoriamente, sendo apenas prejudicado pela obviedade do roteiro. Claro que o ineditismo em histórias como essa é praticamente impossível de se conseguir e, provavelmente, não era a intenção dos roteiristas criar algo totalmente original. A saída seria desenvolver situações que exigisse mais da capacidade dos atores e aumentar o clima de tensão durante as cenas na estrada. Explorar principalmente o ótimo Charlie Plummer, que se entrega ao papel durante toda a projeção mantendo o semblante melancólico – chegando até a esconder sua beleza – e uma postura curvada, sempre olhando para o chão (deve ter deixado seu talentoso avô orgulhoso), seria ideal para alcançar um resultado acima do habitual.
É correta a direção de Andrew Haigh ao apostar nas câmeras intimistas para acentuar os sentimentos e abrindo os planos para mostrar a degradação das cidades durante a viagem e a solidão dos personagens nas cenas do deserto. Deserto esse bem fotografado em sua transição da aridez amarela para o negro frio coberto de estrelas por Magnus Nordenhof Jønck. O negro da noite que acoberta perigos diversos, mas, por outro lado, que inspira a liberdade para um garoto e um cavalo. Os dois que não possuem casa ou família e olham para um passado de dores. Eles não podem voltar porque não são vistos como seres que merecem uma segunda chance, então, o que resta é seguir rumo a um futuro incerto, porém cheio de possibilidades para recomeços.
Essa crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra de Cinema de São Paulo.
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