Com trama envolvente e gore nauseante, “A Substância” se coloca entre os melhores filmes do ano
É, meus amigos, esse filme não ganhou o prêmio de melhor roteiro em Cannes à toa. Não por ser extremamente complexo, afinal o tema da trama é facilmente reconhecível e não conta com grandiosas viradas de enredo. Mas ritmo de “A Substância” é tão bem compassado e sua história é tão bem apresentada que é fácil se envolver com quaisquer rumos tomados. E acompanhando esse roteiro amarradinho temos um visual muito plástico. E falo tanto do uso irônico do design “clean” das embalagens até o gore nada limpo do filme.
Sou obrigado a começar pelo gore do filme. Coralie Fargeat, diretora do filme, não opta por um lugar de mediocridade no grotesco, ela parte para os extremos. Órgãos saltam para fora dos corpos da protagonista, partes se decompõem… ela testa tudo o quê é possível no bodyhorror. Até pequenos detalhes, como o arrancar de um dente ou o manuseio de seringas. Te mergulhando muito fundo nesse pesadelo molhado com pus, sangue e muitas vísceras.
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E se falamos de bodyhorror, falamos de interpretação corporal. Tanto Demy Moore quanto Marguaret Qualley conseguem entregar performances espetaculares. A interpretação das duas valoriza muito o trabalho de maquiagem e efeitos práticos do filme. Você consegue sentir toda a agonia do processo corporal para as duas. E não só o corporal como o mental.
Em “A Substância”, o bodyhorror se encontra além da pele. É um lugar de não reconhecimento do próprio corpo, de auto-rejeição. Um dos maiores horrores desse filme se encontra na desassociação mental das personagens. E ambas as atrizes são excelentes ao incorporar essa agonia.
Sue e Elisabeth se perdem em meio as câmeras e espelhos
Se elas valorizam o trabalho dos efeitos práticos e maquiagem, a montagem do filme consegue escalar tudo isso a décima potência. As justaposições entre as imagens de anúncios fotográficos e entrevistas na televisão com o caos que se dá no banheiro é incrível.
E antes de avançar, não posso deixar de comentar sobre a interpretação de Dennis Quaid. Que personagem odioso, que entrega amável. Dennis faz uso do excelente humor do filme para fazer o papel de Harvey, o produtor de televisão. Toda vez que ele entra em cena, ele rouba pra si toda a atenção do filme. Ele entrega as falas mais caricatas possíveis com um trabalho de voz memorável.
Voltando ao visual do filme, outro ponto fortíssimo se encontra no design de produção. O uso das fontes limpas e modernizadas acompanhadas de um negrito forte dão a cereja no bolo pro visual. Não para modernizar a estética, muitíssimo pelo contrário! O longa nos apresenta toda essa plasticidade como algo terrível, e toda vez que ela aparece em tela, você sabe que o que era ruim pode piorar.
Meu grande problema com o filme é a forma como ele se encerra, não pela decisão tomada, mas pela forma como foi filmada. Elementos como o humor e o gore que são muito bem compassados se encontram nessa catarse e não sabem muito bem aonde se organizar. Uma coisa acaba apagando a outra, e o resultado na audiência é a sensação de levar uma ducha de água fria depois de uma viagem bem doida de alucinógenos. Mas sou obrigado a concordar quando chamam “A Substância” de Clássico instantâneo!
Imagem Destacada: Divulgação/Imagem Filmes
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