Se passando no início do século 20, essa narrativa é protagonizada por Thomas (Dan Stevens), filho deserdado de um homem rico que é convocado pela sua família para se infiltrar em um estranho culto em uma ilha britânica para resgatar Jennifer (Elen Rhys), sua irmã que foi sequestrada. Essa organização religiosa é liderada por Malcolm (Michael Sheen), que vende o local como uma utopia, porém, isso logo é provado falso graças a sua adoração a uma entidade estranha, aos habitantes que fazem oferendas diárias de sangue e a um grupo de homens vestidos de preto que agem como uma inquisição, liderada por Quinn (Mark Lewis Jones). O desafio de Thomas agora é conseguir soltar a sua irmã sem ser descoberto como um infiltrado nesse lugar misterioso.
A trama é bem semelhante ao clássico do terror “O Homem de Palha” (1973), desde a ilha isolada ao culto que louva uma divindade peculiar, mas em momento nenhum parece ser um plágio direto, graças aos detalhes do roteiro. O script do diretor Gareth Evans consegue equilibrar subtramas de personagens secundários que lentamente afetam a missão do protagonista, cria um clima de mistério bem satisfatório e bons personagens e ainda acrescenta um simbolismo em imagens fortes, como o homem alimentando o seu deus com sacrifícios de sangue.
Thomas é um homem com um passado obscuro e, enquanto possa parecer meio genérico, sua desilusão com a fé o torna um protagonista justo para essa história, ao mesmo tempo, Malcolm é uma figura antagônica interessante, que tem uma fé verdadeira e acredita que seus meios questionáveis se justificam pela finalidade. O verdadeiro vilão do enredo, porém, é Quinn, que apesar da boa construção como um fanático violento, decepciona no terceiro ato ao se tornar um típico antagonista de filmes de ação, que perde a oportunidade de derrotar seus inimigos para ficar discursando sobre seus motivos e planos maléficos. Porém, o que realmente dá a vida a esses personagens são as ótimas atuações do elenco, principalmente de Stevens e Lewis Jones.
A parte técnica também não deixa a desejar, com uma bela fotografia de Matt Flannery, que mostra os cenários vastos com um filtro sombrio, mas não escuro, e constrói diversos visuais macabros que criam uma atmosfera de suspense. Acrescentando a esse tom também estão a trilha sonora, os efeitos grotescos de sangue – que são constantes no longa – e o design de produção da vila antiga, principalmente nos elementos mais sobrenaturais, como a deusa e a criatura humanoide que a guarda.
Amarrando tudo isso está a direção de Gareth Evans, que também apresenta muita técnica através de movimentos de câmeras em planos mais longos e o uso paciente e preciso de jump scares, que não infestam a produção como se tornou costume para o gênero atual do terror. Evans também consegue passar bastante o que o protagonista sente, seja o desconforto com o culto através close-ups e do uso constante de câmeras de mão, ou a representação da sua perda da fé com a queda de uma cruz em chamas.
“Apóstolo” é uma surpresa agradável escondida na Netflix. Com a crescente quantidade de filmes de qualidade questionável com o selo da plataforma e o seu tempo de duração mais longo do que se espera do estilo – 130 minutos – ele pode não ser muito convidativo, mas vale a experiência.
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