A atriz e agora cineasta Olivia Wild começou sua carreira de diretora com o bom “Fora de Série”, uma comédia de 2019. De lá para cá, ela passou a ser festejada e teve seu nome ventilado em vários projetos de uma Hollywood sempre em busca de talentos. Os futuros projetos de Wild mostrarão quais caminhos ela traçará dentro da indústria, já que em seu novo “Não Se Preocupe, Querida” não é possível vislumbrar algo concreto, isso porque o filme possui altos e baixos que o deixam em um lugar comum dentro do universo de filmes comerciais.
“Não Se Preocupe, Querida”, portanto, “nada de braçadas” até o início do terceiro ato, no qual há as primeiras revelações sobre o grande mistério da trama. O problema é que a resolução desse mistério é tão banal e clichê que prejudica tudo o que foi construído até então. Isso é uma pena, já que o roteiro e principalmente a direção de Wild mostram capacidade criativa para transmitir suas mensagens durante todo o prévio desenvolvimento da trama.
A história segue Alice (Pugh) e Jack (Harry Styles), um casal recém-chegado a uma elegante comunidade que serve como moradia para trabalhadores que estão envolvidos em um projeto ultrassecreto de uma empresa de tecnologia. Esse lugar é a representação do América Way of live. Ou seja, jovens e belos casais morando em confortáveis casas, que são cuidadas pelas felizes esposas enquanto os maridos vão aos seus trabalhos de suma importância para a sociedade.
Quando propagandas antigas mostravam casais desse tipo, elas idealizavam um homem e uma mulher felizes junto de sua extensa prole. Alice e Jack, entretanto, são diferentes: eles não possuem filhos e são muito mais descolados que seus vizinhos. É o início do casamento, e por isso estão sempre fazendo amor ou se divertindo de outras formas. A “desordem” representada por eles então se instala em um ambiente extremamente organizado e puro. Em uma cena de sexo em cima da mesa da cozinha – nela os dois destroem os alimentos e os utensílios domésticos dispostos com perfeição para o jantar – há a certeza de que eles são a ruína daquela comunidade.
Ruína essa que começa quando os segredos sobre a organização que controla o lugar e a verdadeira faceta das pessoas por detrás dela vão sendo expostos após uma morte inesperada e o início de intensas alucinações em Alice. Wild usa da paranoia de sua protagonista para construir rimas visuais que mostram diversas formas de círculos, como discos girando em vitrolas, xícaras de cafés filmadas em plongée e a própria câmera que gira em torno dos personagens. A rua onde ficam as casas, inclusive, é em círculo. Tudo para expor a repetição diária daquelas pessoas como também para colocá-las em uma espécie de redoma sem saída.
Dentro dessa prisão há um mestre oculto que manipula a todos. Jack até chega a ser metaforicamente controlado por cordas quando ele sobe em um palco e recebe as ordens da plateia que, em meio a uma música intensa, faz ele dançar de forma desajeitada e com os braços para cima. Isso tudo durante a festa na qual ele é aceito na irmandade.
A estranheza causada pela sequência da dança é importante como prévia para o clímax do filme, já que se trata de um momento no qual o destino de Jack e de Alice ainda está em aberto. É também nela que se vê o melhor da atuação de Harry Stiles, que durante todo o restante do tempo fica bem abaixo do esperado mesmo para um cantor que faz bicos como ator. A diferença entre o desempenho dele com o de Florence Pugh é perceptível até para os mais distraídos.
Portanto, junto do desfecho da trama que, como dito acima, é simplório, a atuação de seu antagonista é outro ponto negativo em “Não se Preocupe, Querida”. Infelizmente são defeitos vistosos em um filme que até consegue trazer ao campo do cinema comercial discussões importantíssimas sobre relacionamentos abusivos nos quais as mulheres são vítimas e a necessidade de escapar da realidade cada vez mais presente no ser humano moderno.
“Não Se Preocupe, Querida” estreia dia 22 de setembro.
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