Com “No Outro Encontro Você”, André Bushatsky entrega uma obra feita pela classe média para a classe média, já que são indivíduos dessa classe — a mais pressionada pelo neoliberalismo do self-made man — os seus protagonistas. Isso é fácil de concluir porque, desde o início, o “ser empresário de si mesmo” é uma obsessão dos personagens. Não é possível saber, contudo, se o tema do neoliberalismo discutido pelo roteiro serve como uma crítica ao modelo de sociedade de mercado, que destrói famílias como as apresentadas pelo filme, ou se é apenas uma exposição das frustrações dos realizadores. A segunda opção é a mais provável, já que, de novo, Bushatsky é um cineasta da classe média que pretende falar à classe média.
A história é sobre dois irmãos, interpretados por Bruno Autran e Carol Tilkian, que precisam esvaziar o interiorano casarão de seus pais, já que ele será vendido. Para ajudar no trabalho e também para aproveitar o réveillon, eles convidam um casal de amigos (Julia Lanina e José Geraldo Rodrigues). A trama se desenrola com a interação entre os quatro, e é composta por momentos de ternura entre eles e também por muitos conflitos. Conflitos esses que são carregados de tensão, principalmente quando os insucessos profissionais de alguns deles e as enormes dívidas de outros são colocados na discussão. Portanto, o texto expõe os pesadelos capitalistas de seus autores, mas usa a desculpa de que está falando da condição humana, família e casamento para disfarçá-los.
Além do roteiro que não é totalmente sincero, “No Outro Encontro Você” também possui questões técnicas a se destacar, como alguns tropeços de sua montagem, principalmente quando joga takes de um dos personagens, que faz exercícios ouvindo Rock and Roll, aleatoriamente na tela. São cortes secos que destoam do ritmo cadenciado construído até então. Os diálogos, por sua vez, são bem trabalhados, e com a ajuda da correta direção e dos bons atores, soam naturais ao ponto de parecer que são pessoas reais discutindo as agruras da vida média brasileira. Ainda há os planos de transições que capturam pedaços da casa como destaque, e que possuem o propósito batido, mas necessário à narrativa, de relacionar àqueles personagens com a casa. Ou seja, quando eles se encontram pela primeira vez no local e começam a relembrar do passado, os objetos de suas infâncias são mostrados largados no jardim, como esquecidos. Agora, quando há conflitos, logo se vê as infiltrações e rachaduras da construção. Trata-se, de fato, de um artifício já usado pelo cinema dito de arte, então não surpreende aqueles mais acostumados a frequentar os ambientes de festivais. Para o público pouco afeito às linguagens cinematográficas, no entanto, pode soar um pouco enfadonho e sem significado.
Por fim, “No Outro Encontro Você” parece uma carta de cumplicidade àqueles que tentam viver em um mundo capitalista cruel e destruidor de sonhos. O problema é que são sonhos de uma classe que já possui a riqueza do país em suas mãos. Talvez não seja um filme apropriado para retratar o Brasil contemporâneo e sua população lutando para sobreviver de restos.
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