A realidade da corrupção brasileira agora conhecida pelo mundo
Marco Rufo (Selton Melo) é delegado da Polícia Federal há 20 anos no setor de crimes financeiros, mas está insatisfeito pela pouca valorização de suas investigações e do seu trabalho, como o próprio narra no primeiro episódio: “Vinte anos de Polícia Federal e o que consegui foi comprar um carro usado para minha esposa e um sítio no interior para garantir o futuro da minha filha”. Ele tem um certa obsessão em descobrir as falcatruas do doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Díaz), e depois de refazer notas que pegou no lixo, finalmente o delegado consegue descobrir um esquema de lavagem de dinheiro. Mas o doleiro não fica preso por muito tempo, faz um acordo de delação com o Ministério Público, é solto e não entrega ninguém. Rufo surta com isso, é expulso da PF, taxado de louco e diagnosticado com bipolaridade e passa a sustentar sua família com uma mísera aposentadoria. Dez anos se passam e por causa de pequenos deslizes dos doleiros, começam as investigações da Lava Jato e Rufo dá um jeito de estar participando disso novamente.
A série é uma releitura do maior esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal até o momento, inspirada no livro “Lava Jato: O juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil” do jornalista Vladmir Neto. Cada personagem da trama existe na vida real, a diferença é que os nomes foram alterados, o que talvez fosse desnecessário, todo mundo que acompanha o caso já sabe quem representa quem na série. Inclusive é nítido que o elenco utiliza trejeitos inspirados nas personalidades reais para compor os personagens da série. Mas por precaução, a Netflix solicitou que os nomes fossem trocados para que não houvesse ações judiciais. Até mesmo o nome da Petrobras foi alterado para Petrobrasil, e os nomes do ex-presidentes Lula e Dilma também, mesmo que os atores tenham sido fiéis ao jeito de falar de cada um deles.
Se alguém nos perguntasse qual é o melhor da série, não responderiamos roteiro, direção, fotografia, etc. E sim elenco. Como sempre a atuação de Selton Melo é impecável. Rufo é um homem aparentemente tranquilo, que surta ao ver injustiça, luta até o fim contra a corrupção, e não esconde sua insatisfação com o emprego e todo o sistema existente no país. Um personagem complicado, mas interpretado com facilidade por Mello. Apesar disso, é Enrique Díaz que merece destaque. O ator vive o doleiro Roberto Ibrahim, inspirado em Alberto Youseff, e vemos nele o grande vilão da temporada. Não tem como evitar a raiva do personagem, e isso só acontece porque o trabalho do ator foi muito bom. As cenas dele com Mello são um show de interpretação, o encontro de vilão e mocinho. Além disso, Díaz é fiel a personalidade que inspirou seu personagem, uma mistura de tranquilo e cínico, nada o abala, nada dá medo, simples assim. Além deles temos Otto Jr vivendo um personagem inspirado no juíz Sérgio Moro, homem de poucas palavras como o real, temos Leonardo Medeiros como o diretor da Petrobrasil, e claro, Caroline Abras como a delegada e chefe da investigação Verena, uma mulher de personalidade forte que não desiste fácil de prender os verdadeiros criminosos do país.
O Mecanismo já está dando o que falar por causa do tema abordado e como isso é feito. Não existe o cuidado de fingir que é só inspirado em fatos reais, eles deixam claro que cada detalhe realmente aconteceu. É uma série que traz um tema atual ao mesmo tempo que também é uma aula de história e política. Uma boa produção, linear, real e importante para a população.
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