Com um texto que fala sobre religião, crenças populares, rituais, hábitos, capoeira, a influência negra e indígena, a obra mistura-se entre personagens vindos de diversos cantos e, em sua maioria, estão à margem da sociedade.
A busca por suas raízes enquanto se perdem na imensidão da cidade, a violência, a intolerância, a falta de amor, de solidariedade, todo o vazio que pode tornar-se parte de quem não se encontra.
A peça é inteligente e bem pontuada, com ótimas passagens, tudo muito verdadeiro e que costuram com o Teatro, a Dança, a Música e o Canto. As cenas vão se misturando, como se uma puxasse a outra de algum modo, mesmo que não sejam enredos que, a princípio, estejam interligadas.
O elenco é grandioso, cheio de atores jovens com talento e que trazem para o palco um objetivo claro de fazer um bom espetáculo. Todos são muito capazes, trabalham bem o espaço e não deixam a peça escorregar entre seus dedos nem tampouco algo a desejar. Dentre todo o elenco muito competente, uma especial atenção a atriz que faz Alma, a moradora de rua sonhadora e, de até certo modo, inocente, com total entrega e que possui uma voz muito bonita.
A trilha sonora é maravilhosa, com muitas músicas originais e que cabem perfeitamente ao espetáculo. Acompanha também músicos ao vivo e isso só torna a obra ainda mais especial. A cenografia do espetáculo fica por conta de objetos trazidos pelos atores e que vão sumindo, conforme deixam de ser importantes. O figurino faz um equilíbrio entre todos os personagens, tendo uma proposta mais uniforme durante quase toda a peça, e transformando-se conforme os dramas vividos iam evoluindo.
É bom preparar-se para ver a peça: são 150 minutos, dois atos e um intervalo entre eles de 25 minutos, onde oferece-se uma pequena janta. Eles usam de todo o prédio da Cia, o que nos leva a subir e descer alguns lances de escadas. Toda a equipe que está lá é muito cordial e educada, atendendo ao publico durante essas transições com muito respeito.
O texto e a direção ficam a cargo de Marcelo Marcus Fonseca que faz um trabalho delicado e, em sua maioria, bem feito, com boa finalização. Toda equipe de produção trabalha com especial dedicação para fazer deste um espetáculo memorável.
O Santo Dialético está em cartaz em São Paulo. Sábados às 20 horas e Domingos às 19 horas. A temporada segue até o dia 04 de dezembro de 2016.
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