O relacionamento entre uma mãe e seus filhos pode ser bastante confuso, pois esbarra nas questões dos afetos mal-resolvidos dessa criadora desde a sua infância, projetando todos os seus traumas e amarguras na criação. Atrapalha o desenvolvimento psico sócio-emocional em todas as fases, levando-os a se tornarem adultos com dificuldades e mágoas dos pais. É o reflexo de uma família bastante caótica. Outras mães conseguem ter mais dedicação na educação, transmitindo segurança para os seus filhos e os preparando para as dificuldades do Mundo.
Dentro da construção de um relacionamento, independente se é ou não familiar, muitas vezes, para protegermos o outro de uma dor emocional, escolhemos mentir sobre o seu estado de saúde. Sentimos medo pelo próximo quando amamos intensamente e somos capazes de compartilhar pela mesma dor, nos tornamos pessoas empáticas em relação a tudo o que acontece ao redor.
“Pequeno Segredo”, filme brasileiro a concorrer uma vaga no Oscar, só tem sua estreia prevista para o dia 10 de novembro, mas já vem causando discussões inflamadas entre críticos e outras entre espectadores. Embora o motivo de boa parte dessa situação deva-se aos problemas políticos do país, o que não vem ao caso explanar nessa crítica, o filme possui suas incongruências cinematográficas e, por isso, detém de inúmeros fatores que podemos abordar nesse texto.
Baseado em fatos sobre a família Schurmann, a obra em si é sensível e profundamente sentimental, o que pode fazer algumas pessoas questionarem o excesso melodramático da mesma. Entretanto, não chega a ser exagerada ou ruim como muitos relataram ao longo das últimas semanas. O trabalho possui ótimos momentos de conflitos entre o filho e a mãe, tomadas de decisões bastante difíceis, bem como algumas atitudes impulsivas e sentimentos profundos que resultam em mágoas.
O elenco em um todo está bem, mas Fionulla Flanagan rouba a maior parte das cenas, revelando a personalidade forte de sua personagem, que transparece ser uma mulher bastante sofrida. Julia Lemertz, representa com segurança uma pessoa extremamente emotiva, uma mãe bastante equilibrada e compreensiva. Já Marcelo Antony não fica muito em destaque, quando aparece, compõe a relação do casal, mas acaba sendo desperdiçado em cena. Maria Flor, com uma construção simples e linear, consegue chamar atenção e nos envolver através de momentos alegres e outros melancólicos. Mariana Goulart, outra interpretação incrível, demonstra muita sensibilidade e maturidade ao dar vida a uma menina sonhadora.
O próprio Schurmman foi responsável pela direção do filme. O profissional optou por bons enquadramentos na maior parte do filme, alguns que valorizaram muito a fotografia, mas acabou pecando em não saber se segurar em determinados movimentos de câmera, os quais contribuíram para que o filme perdesse todo envolvimento psicológico da maior parte dos acontecimentos. O tempo de cortes das cenas, durante a edição, também é uma falha que fez o filme afundar um pouco em relação ao seu ritmo, deixando algumas cenas insossas.
A fotografia do Peruano, Inti Briones, é impecável e dá o tom certo a produção, que optou por um cenário belíssimo. Embora as cenas sejam de um colorido instigante, o fotógrafo conseguiu criar uma atmosfera que oferece um semblante de tristeza e mistério.
“Pequeno Segredo” pode até não ser o preferido de muitos brasileiros para representar o nosso país na disputada corrida pelo Oscar, o que é uma pena, mas é um filme bonito, que busca diferenciar um pouco o estilo dos projetos realizados por aqui. É uma história que fala sobre as relações humanas, sem aprofundar nas tragédias, mostrando o lado positivo da vida. Podemos até sentir um pouco de dificuldade para compreendermos a verdadeira intenção do Schurmman, aonde ele realmente queria chegar, mas é um filme que nos convida a refletir sobre muitos assuntos.
Crítica: Marina Andrade
Colaboração: Daniel Gravelli
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