A título de contextualização, as questões relacionadas ao clima global vêm sendo amplamente discutidas em escala mundial. Formalizada em 1997 com o Protocolo de Kyoto, uma cooperação internacional com vistas a redução da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) se estabeleceu. E em 2015, no contexto da tão falada COP 21 (em Paris) novas metas foram estabelecidas, buscando uma condição mais justa onde os países mais desenvolvidos (e principais poluidores) não só arcassem com maiores responsabilidades como auxiliassem os países em desenvolvimento em um crescimento econômico mais limpo. O Acordo foi aprovado por 195 países, com o compromisso de não permitir que a temperatura global tenha aumento de 2°C (o que teria consequências catastróficas). Contudo, como a principal causa deste cenário é a queima de combustíveis fósseis, a redução de GEEs possui um forte impacto econômico (tanto nos países desenvolvidos quanto, e especialmente, nas nações emergentes), os envolvidos no acordo apresentam propostas de redução que consideram viáveis dentro do contexto socioeconômico local – as denominadas “Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas” (iNDC, na sigla em Inglês). Apesar de considerado ambicioso, alguns especialistas afirmam que o somatório das iNDC não são suficientes para atender as demandas apresentadas pelos trabalhos científicos com vistas ao equilíbrio climático. Deve-se considerar também que desde a assinatura do acordo mudanças de governança em locais relevantes ocorreram (como nos Estados Unidos, por exemplo), e com elas propostas menos limpas também vieram à tona.
O longa parte desse contexto, mas já em um cenário otimista no qual um grupo de cientistas de muitas nacionalidades e de diversas competências desenvolvem uma rede de satélites capaz de evitar catástrofes e controlar o clima. Comandada pelo cientista Jake Lawson (Gerard Butler) o sistema apelidado de “Danny boy” consegue cumprir seu papel com excelência. No entanto, por questões políticas o cientista é afastado do cargo que passa a ser ocupado por seu irmão mais novo Max (Jim Sturgess). Algum tempo após seu afastamento, no entanto, problemas pontuais sinalizam erros graves no sistema. A morte de inocentes em uma nevasca no deserto do Afeganistão ou na extrema alta de temperatura em Hong Kong leva a coordenação recrutar de volta a base seu criador Jake. No desenrolar da trama a briga entre os dois irmãos vai dando espaço a uma cooperação intensa frente a uma ameaça muito mais grave: Uma conspiração que passa a usar o sistema para fins escusos, levando o planeta a uma tempestade global (ou “Geostorm”, seu nome original – muito mais aderente à proposta).
Como todo filme de catástrofe que se preze, “Tempestade: Planeta em Fúria” conta com efeitos especiais de alto nível. Isso já pode ser observado no trailer que basicamente apresenta as cenas catastróficas (e bem realizadas) do filme. Mas também é feliz nas imagens em órbita, trazendo ao público cenas muito reais de um futuro nem tão distante. E nesta, a fotografia também deve ser comentada, por criar atmosferas muito distintas entre locais onde relações também diferentes se estabelecem. Por exemplo, o contraponto do ambiente ensolarado (amarelado) da casa onde Jake mora e recebe sua filha, remetendo a uma sensação leve e esperançosa, e o ambiente mais escuro e acinzentado das cenas da cúpula do governo. Nuances como estas podem ser vistas em todos os núcleos, reforçando o papel de cada um em cena.
O trabalho dos atores é bom, mas sem grandes destaques. Somente a jovem Thalita Bateman (“Anabelle 2”) que mais uma vez defendeu bem sua personagem, mostrando que sua estrada pode ser muito longa. A direção e o roteiro de Dean Delvin mostram ao público um filme que foge um pouco do clichê pela sua abordagem mais científica e próxima a realidade ambiental do planeta hoje. Trazer às telas essa discussão tão forte no governo e na academia foi uma proposta diferente (especialmente por relacionar os desastres naturais às ações antrópicas de formas diferentes), e tem seus méritos por isso. Outra característica interessante (e que destoa radicalmente do padrão hollywoodiano) é que durante toda a narrativa se reforça que o projeto não é estadunidense, mas sim fruto de uma cooperação entre 17 países, e que somente com essa união é possível pensar em uma saída para esse problema que é global. Uma crítica negativa que pode ser feita é sobre a inserção de pequenas comicidades em momentos de tensão do filme. Isso o torna mais blockbuster, mas quebra o clima e o foco da narrativa.
“Tempestade: Planeta em Fúria” é uma boa opção de entretenimento para todos os públicos.
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