O vencedor da Palma de Ouro em 2022, “Triângulo da Tristeza”, começa com a escolha de casting para um desfile de moda. São candidatos homens com rostos e corpos perfeitos. Eles, durante a seleção, são tratados como meros produtos que podem servir ou não aos olhos treinados dos selecionadores. O jeito de desfilar, rugas ou a idade das fotos de seus books são julgados. E, se estiverem fora do padrão, são descartados. Portanto, logo de início, o cineasta Ruben Östlund lança sua artilharia artística contra o mundo superficial e cruel dos ricos e famosos, que são os que mais recebem o serviço da elite da moda.
Dentre os modelos que aparecem na introdução, há Carl (Harris Dickinson), que vira destaque e segue durante todo o restante do filme, mas ganhando a companhia de sua namorada Yaya (Charlbi Dean), uma influenciadora digital famosa. A primeira sequência de cenas entre os dois é composta por discussões sobre quem pagará a conta de um restaurante, o que expõe o papel disruptor do dinheiro. O relacionamento entra em crise a partir daí.
Em todo o seu início, “Triângulo da Tristeza” usa tais situações para preparar o público, que depois acompanhará, no segundo ato, algumas das cenas mais engraçadas, e ao mesmo nojentas, que o cinema já produziu ultimamente. Pode-se dizer, evitando spoilers, que a escatologia é usada para revelar a verdadeira faceta de milionários presentes em um cruzeiro de luxo, que se transforma em lixo imundo em uma condução cinematográfica que beira ao punk.
Os melhores momentos do filme acontecem, de fato, dentro do navio de milhões de dólares. É nele em que há a divisão de classes: empregados latinos e asiáticos vivem nos porões e servem aos abastados brancos europeus da parte de cima. Há a divisão, mas mesmo os empregados esperam terminar a viagem com muito dinheiro no bolso, tanto que gritam em coro “money”, “money”… antes de começarem os trabalhos. O capitalismo, dessa maneira, está representado em sua forma mais pura.
“Triângulo da Tristeza”, portanto, consegue transmitir sua mensagem com clareza e com vigor, mesmo perdendo um pouco de força em seu terceiro ato, que rearranja o jogo fora do navio. Talvez, a catarse transgressora gerada anteriormente torne o restante da história óbvia em sua proposta, mesmo que o desfecho tenha sido planejado para ser criativo e a convidar os espectadores a tomar as suas próprias conclusões. Para alguns, isso funcionará, mas para outros ficará uma sensação de algo inacabado.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.