Entrevista com a atriz Flora Menezes

17 de junho de 2017
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Natural do Mato Grosso do Sul, Flora Menezes já se considera carioca pelo tempo em que vive no Rio de Janeiro. Com uma voz arrebatadora e construções de personagens bem diversificados e surpreendentes, essa atriz/cantora pretende dar muito o que falar ainda nos teatros por onde passar.

Fez faculdade de música com um pé ou os dois no teatro e conta com o apoio incondicional da família nessa jornada louca que nos impõe o fazer artístico no Brasil. Principalmente no respeito, confiança e fé nas suas escolhas, além de se sentir cercada por amigos com quem também pode contar e que relevam, às vezes, a dolorosa ausência (“não posso, tenho ensaio”) e vibram junto a cada nova conquista.

Encarando o Teatro João Caetano com a montagem, agora profissional, d’O Mambembe – Um Musical Brasileiro’ ela se sente bastante realizada, mas quer ir além: “encarar aquela autoprodução que parece um bicho de sete cabeças, passar naquela audição “improvável”, trabalhar com tanta gente que eu admiro, fazer cinema, televisão, diferentes linguagens de teatro, fazer um próximo personagem desafiador” revelou-nos a atriz.

Cena de “Tommy” – Unirio 2011 / Foto Divulgação

Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais dessa pessoa linda e você pode conferir tudo na entrevista seguir:

Adriana Dehoul: De onde surgiu a vontade de entrar no teatro?

Flora Menezes: Fiz teatro quando criança e adolescente por incentivo da minha mãe que, aliás, foi minha primeira professora de teatro! Como meus pais são artistas, sempre estive próxima das artes. Mesmo quando me envolvi profissionalmente com outras áreas, a música estava sempre comigo… mas depois de entrar para a Unirio, digo que cruzei a ponte que liga os dois prédios (o da música ao do teatro) e não teve mais jeito: o “bichinho” do teatro me mordeu de vez.

AD: Como está sendo para você viver nos palcos uma personagem bem mais velha? Conte-nos um pouco sobre a construção da personagem Dona Rita d’O Mambembe – Um musical Brasileiro’.

FM: É um exercício de imaginar a vivência dessa mulher, o que ela pensa, como ela vê a vida, especialmente no Brasil de 1904. Me fez pensar também em como as mulheres mais velhas são retratadas na ficção, sobre quantas vezes temos acesso ao ponto de vista delas, como as famílias se apoiam nas mães e delas tudo esperam. O quanto as mães são toda esta fortaleza e o quanto precisam também de quem lhes apoie.

Cena de Spamalot / Foto Divulgação

AD: Quais os principais desafios que você tem encontrado na carreira?

FM: Muitos desafios… adequação aos chamados “perfis”, por exemplo. Nos projetos da Unirio de Teatro Musicado, tive a oportunidade de viver personagens para os quais não conseguiria nem fazer audição segundo a triagem de perfil que usualmente se faz no mercado. Os esforços para desenvolver novas habilidades às vezes exigidas para determinados espetáculos (modalidades de dança, circo, tocar instrumentos musicais). Não perder a coragem e a esperança, mesmo depois de tantos “nãos”em testes. Entender como gerenciar uma carreira, aprender a fazer marketing, a conciliar as características da sua personalidade com as exigências de mercado. Aprender a se produzir. Não deixar que a autocrítica exacerbada te impeça de agir, de inovar, de se arriscar.

AD: Existem diferenças da Flora que atuou em “Tommy” para a de hoje?

FM: Minha primeira montagem no projeto Unirio Teatro Musicado foi “Tommy”, a ópera-rock do The Who, em 2011. De lá para cá fiz “Spamalot” (2012), “O Jovem Frankenstein” (2015) e “O Mambembe” (2016), entre outras montagens fora da faculdade. Hoje eu agradeço por ter entrado para o projeto naquela época porque o ensino especializado na formação do ator para teatro musical cresceu tanto que são muitos os candidatos bem preparados em todos os tipos de audição e a concorrência é bastante forte. O Marcelo Farias (“MEF”) costuma dizer que no começo ele passeava pelo jardim do campus da universidade pedindo e convencendo as pessoas a fazerem audição e é verdade! Agora as audições são superlotadas. Só tenho a agradecer a Rubens Lima Jr, Guilherme Borges, Victor Maia e Marcelo Farias por terem me aberto esta porta.

Há muita diferença entre o meu trabalho naquela primeira montagem e agora no Mambembe. A cada peça a gente aprende e se aperfeiçoa muito. Olho para trás e penso que tive (e tenho) muita sorte de aprender com colegas que sempre admirei e continuam seguindo com trabalhos incríveis. Eu também estudei bastante nos cursos e com professores especializados, desafiei o que eu acreditava que eram os meus limites, diversifico os métodos, estou sempre atenta a tudo que possa aprender em cada processo e em tudo o que eu vou assistir.

Cena de “O Jovem Frankeinstain” – Unirio / Foto: Cris Delamare

AD: Professora de Inglês e de Canto, Atriz e Cantora. Como lidar com todas essas funções no dia a dia?

FM: Se você me perguntar como funciona, eu não sei te dizer. Muito trabalho, exaustão, correria e perseverança. Sei que até agora, só foi possível porque trabalhei com uma equipe incrível que entende e valoriza o trabalho do artista. Sou professora de inglês numa escola onde também desenvolvo um trabalho de canto coral cênico com crianças e adolescentes e tive chefes que me davam força e prestigiaram todos os trabalhos que fiz.

AD: Quais os personagens mais desafiadores que já pegou?

FM: Acho todos os personagens desafiadores! Se são parecidos com os que eu já fiz, me preocupo em fazer diferente. Se são de temperamento muito diferente do meu próprio, procuro não partir para o oposto radical, mas trazer nuances. Tudo me preocupa. Quando eu acho que está bom, me coloco em dúvida. Quando assisto coisas que eu já fiz penso em como faria diferente hoje. Acho que somos assim, os atores. Não podemos nos acomodar, estamos sempre nos reciclando através do olhar do outro e do nosso próprio.

AD: Soubemos que você esta desenvolvendo uma pesquisa sobre a voz dos personagens em teatro musical. Conte-nos um pouco sobre isso.

FM: Sim! Encerro meu curso de Licenciatura em Música na Unirio com um memorial e também um guia pedagógico sobre voz falada e cantada em teatro musical, sobre minha experiência com as personagens “Elizabeth Benning” de “O Jovem Frankenstein” e “Dona Rita” de “O Mambembe”, de construções vocais bastante diferentes, ambas do projeto desenvolvido na faculdade.

AD: Quem são suas inspirações no meio artístico e de que forma o trabalho deles lhe influencia?

FM: Pergunta difícil! (Risos) Como se não bastassem as tantas referências, os amigos sempre nos apresentam novos artistas, espetáculos, linguagens. Tem sempre algo novo pelo que se encantar.

AD: Existe alguma diferença entre o “O Mambembe – Um musical Brasileiro” versão acadêmica e o profissional que esta em cartaz no Teatro João Caetano hoje?

FM: Acho que a grande diferença é o amadurecimento da montagem e de cada um dentro do projeto. Estamos sempre mudando, às vezes sem perceber, e as novas experiências pessoais e artísticas se refletem no trabalho. Já experimentamos cenas, canções e estamos mais “azeitados”.

AD: Quais são os projetos para 2017?

FM: No primeiro semestre tive o prazer de atuar no musical “Só por Hoje”, de Tiago Rocha e Reiner Tenente e seguir com “O Mambembe” agora profissionalizado. É um ano de encerramentos e novos começos. Tenho planos e ideias de trabalhos próprios, mas que ainda não estão totalmente no papel e estou aberta a outras oportunidades, quero praticar diferentes fazeres teatrais.

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