1º de maio de 1994, em Ímola, Itália, morre Ayrton Senna. O tricampeão de formula 1 deixa a pátria órfã de herói. A data ficou marcada, não pela morte do nosso campeão, mas pelo acontecimento que tem até hoje consequências na minha vida.
Era uma bela manhã e o domingo estava calmo, já próximo do meio-dia. Os país estava apreensivo com o desenrolar dos fatos. A casa estava em silêncio, minhas filhas brincavam no play com as amiguinhas, minha esposa descansava no quarto. Eu levantei do sofá e fui até à cozinha para tomar água. Ao abrir o armário para pegar um copo, percebi que o saleiro estava quase vazio. Então, pensei, vou comprar sal. Embora não houvesse necessidade, pois, o almoço estava pronto e a compra podia ficar para o dia seguinte. Mas eu fui assim mesmo. Peguei a bicicleta e fui até à padaria. Ao chegar lá, a bicicleta derrapou e eu cai com o joelho dobrado em V. Ainda que a bicicleta tenha ficado toda retorcida, eu, a principio, não senti nada, então levantei, encostei o veículo e, com o joelho sangrando, fui comprar o sal e voltei para casa. Lavei o ferimento na garagem do prédio, subi e acomodei-me no sofá, depois de tratar da ferida. Mais tarde, tentei mover a perna, mas não consegui e, a partir dai, nunca mais esqueci que tenho joelho.
Ayrton nos deixou órfãos de herói. Sim, herói, no singular. O nosso campeão era o nosso último herói em atividade. Só depois da comoção, das homenagens, das imagens em câmera lenta na TV e das versões fúnebres da canção da vitória, a nação percebeu que não tinha mais heróis. As corridas de fórmula 1 nunca mais foram as mesmas.
Desde então, os filhos da pátria estão a procura de ídolos. Não é meu propósito aqui, tratar do conceito de herói ou ídolo. Porque o que me chama a atenção é o conceito e a imagem que temos para nossos heróis. A Rio 2016 reflete bem o que esperamos de nossos ídolos. Será que nós precisamos é que, além das alegrias e das emoções concernentes, nossos atletas heróis nos tragam apenas medalhas? Sem falar no deplorável desejo de vingança contra a Alemanha do fatídico 7 a 1. A meu ver há bastante diferenças entre herói e ídolo. Somente a atitude de coragem e superação transforma o homem comum em um herói. Diferente do herói, o ídolo corre o risco de não deixar saudade e nem legado.
O que esperamos de nossos heróis? Eles podem nos dar a alegria da vitória, massagear nosso ego ao exibir seus troféus e medalhas, mas o que faremos quando a embriagues da euforia passar, quando tivermos de volta os nossos engarrafamentos, e estivermos de novo expostos aos perigos das ruas? Onde estarão os policiais? Não serão eles os heróis que devemos contar nos momentos de apuros com a bandidagem? Ou seria alguém capaz de baixar os juros, conter os preços dos alimentos, aumentar as ofertas de emprego, domar o monstro da inflação? No conceito das enciclopédias o herói é um destemido defensor, e o ídolo é um infalível protetor. Somos um pais mergulhado numa crise, sentimo-nos num barco à deriva, sem saber a que rumo vamos nem a que porto vamos chegar. Precisamos de um herói que acalme a tempestade, que nos dê a paz que o mundo não pode dar, de que alguém nos conheça a fundo e que esteja disposto a sofrer por nós. Seria o seu nome Neymar, Marta, Tiago? Creio nosso herói ou nosso ídolo não esteja nos pódios. Precisamos mesmo rever nossos conceitos a respeito de nossos heróis, ou continuaremos como filhos da pátria sob a égide de heróis de lata.
Por Ivo Crifar
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