Quando monstros aparecem em um filme que não é apenas um terror ou suspense, mas conseguem protagonizar um drama, e você percebe que a plateia se emocionou com um mutante aquático, um fauno ou até fantasmas de crianças, você sabe que está vendo um filme do Guillermo Del Toro, o diretor mexicano que ama monstros e o bizarro.
O cineasta nascido em Guadalajara, México, em 1964, tomou gosto pelo cinema cedo aos 8 anos de idade. Durante essa época, ele ganhou uma câmera super 8 e começou a fazer pequenos vídeos usando seus bonecos do “Planeta dos Macacos” e outros objetos que ele tinha a mão. Com o passar do tempo – nos anos seguintes – ele fez curta-metragens, entre eles um chamado “geometria” em que já mostrava o gosto de Guillermo pelo terror.
Ele estudou efeitos especiais com Dick Smith (que trabalhou no filme Exorcista), isso foi muito importante porque além de dar uma grande bagagem para ele em sua vida como diretor, fez também com que abrisse sua própria produtora de efeitos especiais chamada “Necropia”.
Em 1992, Guillermo Del Toro dirigiu seu primeiro longa-metragem “Cronos“, um filme trash que conta a história de um amuleto que é capaz de dar vida eterna, mas acaba transformando severamente a vida do seu portador. Essa obra acabou sendo um ótimo cartão de visitas, era uma história de vampiro bem original, com mitologia própria e uma assinatura bem marcada e presente, tanto no roteiro como na direção.
Graças a “Cronos“, Guilhermo recebeu o convite para dirigir um filme em Hollywood em 1997 e ,com isso, ele fez “Mimic“, que acabou sendo muito modificado pelos produtores, fazendo com que o resultado o desagradasse muito, e até o fez se decepcionar com o jeito Hollywoodiano de se trabalhar. Por isso, que a partir desse momento, foi fazer seus filmes na Espanha, país no qual ele foi produzido pelo Almodovar que respeitou muito mais sua visão artística e o deixou trabalhar da forma que queria.
Na Espanha foram feitos dois dos filmes mais marcantes da carreira do diretor. “A espinha do diabo” (2001), drama fantasmagórico que se passava em um orfanato na Espanha, e o famoso “Labirinto do Fauno” (2006) que se passa na guerra civil espanhola e conta a história de uma menina e um fauno que a acompanha nos momentos mais difíceis desse ambiente opressivo. Os dois filmes fizeram bastante sucesso, mas o segundo o levou para outro patamar, já que foi indicado ao oscar de melhor filme estrangeiro e fez tanto a crítica quanto os grandes estúdios prestarem bastante atenção em seu trabalho.
Durante a década de 2000, veio mais um convite para dirigir nos Estados Unidos e dessa vez era um filme de super herói, “Blade 2” (2002). O cineasta mexicano aceitou a proposta e acabou levando a história do caçador de vampiros para outro nível, além das cenas de ação muito melhor dirigidas que o primeiro filme, tinha uma história mais coesa e um visual bem mais marcante que o original. Dessa vez, a visão do diretor foi muito mais respeitada e pareceu que finalmente Guillermo tinha se acertado com o cinema americano que tanto tinha o desiludido no passado.
Nos anos seguintes, o diretor continuou fazendo filmes que foram muito bem nos Estados Unidos como “Hellboy“, “Hellboy 2“, “Não tenha medo do escuro” e outros projetos em que ele foi roteirista ou produtor. Todas essas produções tinham um pé no bizarro e sempre tinham monstros no centro de sua história, dois aspectos sempre presentes na assinatura do artista.
Em 2013, Guillermo surpreendeu fazendo algo bem diferente do resto que já tinha feito até então, fez um filme com um orçamento gigante onde ele abusou do 3D e do CGI e fez sua obra mais nerd, “Círculo de fogo“, uma história de guerra entre monstros que invadem a Terra e robôs gigantes. Tudo pareceu sair das páginas de um mangá ou um anime japonês e os elementos da cultura otaku recheiam o enredo do início ao fim. O filme até hoje divide opiniões, mas mostrou que não é apenas com maquiagem e efeitos práticos que seu diretor sabe trabalhar.
Em 2015, veio “A colina escarlate“, romance de época que realmente não foi muito bem nem de crítica e nem de público e quase todos, que acompanham a carreira de Guilhermo Del Toro, concordam que esse foi o seu pior filme. Porém, ele não desistiu dos romances, já que em 2017 ele voltou com “A forma da água“ que mostra o amor de uma mulher por um monstro aquático que vive trancado em uma base militar. Essa última pérola foi ganhadora do festival de Veneza e fez com que ele ganhasse o globo de ouro de melhor diretor e ficasse como um dos favoritos para o Oscar.
Guillermo Del Toro e seus personagens conseguem mostrar para sua plateia que o tocante pode vir de lugares nada convencionais e que o cinema pode ser inovador até nos gêneros mais subestimados como filmes de monstros.
Por Fernando Targino
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