A peça Sabe Quem Dançou? está encerrando no dia 28/07 sua temporada no Teatro West Plaza e ainda há tempo para conferir esse texto pungente e provocador que há 30 anos foi escrito por Zeno Wilde, após seleção em concurso promovido pela “Associação Paulista de Autores Teatrais” em abril de 1990, recebeu o Prêmio Shell do primeiro semestre de 1991 na categoria de “Melhor Texto” e desde 2015, tem sido encenado com muita força e energia anárquica pelo ator, protagonista e diretor Hermes Carpes.
O espetáculo nos traz personagens marginalizados que vivem em uma área periférica na cidade de São Paulo, se veem às voltas em uma luta pela sobrevivência nessa grande e feroz metrópole, sendo que já partem em desvantagem, considerando que Madonna é um homossexual que vive dentre outras coisas de recepcionar mercadorias roubadas, colecionando informações privilegiadas das ruas, abriga meninos mais novos que seduz e tenta aconselhar nessa vida difícil.
O espaço e cenografia acontecem em um único lugar, um apartamento que lembra uma kitnet, composto por uma cama, um altar para a cantora de inspiração, ídolo pop elevada a uma Santa, um banheiro… E é por esses cômodos que conhecemos os outros personagens desesperados como Passarinho, um ladrãozinho pé de chinelo e atual amante de Madonna, que passa o dia inteiro a observar pela janela o que se passa nos arredores.
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Na sonografia “lá de fora” que se torna um personagem por si só, há praticamente tudo que se caracteriza ou imagina-se ouvir-se nas periferias: gritos desesperados, sirenes, freadas de carros que remetem a perseguições ou fugas e tiros que causam impacto imediato à platéia.
Na forma que é encenada, torna-se quase impossível um espectador de teatro não se impactar, pois na composição dos personagens que vivem em uma disputa tensa de poder há violência física e psicológica, sedução, malícia e manipulação regadas a cenas amoras corajosas dos atores, que na maioria das vezes imergem totalmente dentro dos personagens e nos sucessivos acontecimentos em que o texto se desdobra na montanha russa de uma tragédia anunciada.
Os ânimos sem inflamam ainda mais, quando um garoto recém chegado do interior de São Paulo é acolhido por Madonna gerando ciúme/desconfiança em Passarinho e surge o truculento e ameaçador Cabo, representando a única autoridade constituída no texto que mesmo sozinho, consegue representar toda corrupção e impunidade de qualquer período desses trinta anos de concepção da peça, sendo mais um elemento volátil em um caldeirão social com potencial explosivo.
Ao som dos maiores clássicos da diva Madonna, na performance inspirada e certeira do protagonista Hermes, seguem-se as maquinações, evoluções dos personagens e a certeza de que realmente, não há necessidade de atualização do texto, pois traz a criminalização dos diferentes, o abuso das autoridades e a falta de perspectiva dos mais jovens…
Está quase tudo dentro do palco e aqui fora na vida real.
Falta um pouco mais de backstory das relações entre alguns personagens e profundidade dos esquemas entre os personagens Madonna e do Cabo que mesmo naquele microcosmo, fica uma dúvidade de até onde aqueles tentáculos se estendem, mas o contexto, o meio e a mensagem estão lá.
Respondendo à intrigante pergunta do título desse espetáculo necessário, Sabe Quem Dançou?
Toda nossa sociedade, que se não sofre pela marginalização, padece sobre toda violência advinda dessa desigualdade social que continua aparentemente insolúvel ao nosso redor.
E as conclusões dos arcos dos personagens e a cena final do espetáculo, não deixam nenhuma dúvida disso.
Aproveitem para comparecer e prestigiar, pois só terão mais duas apresentações nos dias 21 e 28 de julho
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