Primeiro filme do diretor Alex Carvalho, nascido em Pernambuco e radicado em Londres há anos, é lançado na expectativa de um filme que demorou cerca de 10 anos para ser finalizado, sejam pelas dificuldades de financiamento no cenário do Cinema Nacional, pela pandemia ou pelos ajustes da adaptação do livro francês do mesmo nome, finalmente é lançado no país.
Essa expectativa se traduz logo nos primeiros momentos do filme, onde uma francesa está posta a uma mesa para degustação de um cardápio às cegas, exótico e variável, a fruta-pão, em que todos estão vendados e só essa personagem retira a venda antes de todos.
Ou seja, embora seja um cenário de privilégio, não a satisfaz, nem a estimula.
Essa personagem é Catherine, que vem ao Recife encontrar e passar um tempo com sua irmã, após o falecimento do pai doente que ela cuidava.
Aude, a irmã, se mostra bem mais acostumada com o cenário privilegiado da primeira cena e mora com seu esposo, um brasileiro, onde tem um belíssimo apartamento em frente à praia.
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Esse deslocamento inicial, coloca muito bem um estudo de personagem que se segue ao mistério de quem seria Catherine, já que ela pouco fala e prefere observar, sempre reservada e com um ar melancólico, como se tivesse entorpecida, numa grande composição da atriz Marina Foïs, que só com o olhar e pouco gestual, consegue se fazer entender na maioria das vezes, pois ainda assim paira um mistério sobre ela.
A fotografia é formada por diversas tomadas estáticas, o que valoriza até certo ponto, toda a mise en scene do filme a traz alguns momentos de suspense, sobre o que o próximo enquadramento pode mostrar, baseada nas impressões de Catherine e no decorrer da história.
Ainda mais quando chega o momento do encontro com o co protagonista, Gilberto, que naquela malemolência e simpatia digna do nordestino brasileiro, estimula e atrai Catherine, mas à princípio, não pela diferença de idade ou por uma suposta atração um jovem negro e atlético, e sim pelos momentos no filme em que ela se identifica com ele no afeto com as pessoas, pois verifica como ele trata com alegria dos amigos e até um senhor idoso que banha à beira da praia, além de uma marca no corpo do rapaz que a intriga e lembra o título do filme.
Interpretado com muito carisma, mas nem tanta técnica por Maicon Rodrigues, não é difícil presumir à partir desse encontro improvável, uma série de críticas sociais e clichês das dificuldades de um romance dessa natureza, em que a diferença de classe social é mostrada e pior, no final se concretizam com atitudes que não condizem com o que foi apresentado dos personagens ao longo do filme.
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Sim, há a paixão cenas ardente de amor bem filmadas constrastando os corpos negro e branco, mas algo falta quando o conflito natural em casal tão díspar se instala de uma forma que beira ao irracional, e não que se mostrou durante o filme.
Filme esse que curiosa e prazerosamente, traz um frescor que não é comum, com elementos bem brasileiros, mas com um certo academicismo europeu com muitas imagens das ondas do mar, momentos contemplativos e algumas situações que não ficam totalmente claras ao longo da projeção.
Além dos clichês sociais, tem um que é bem óbvio que envolve paixão e fogo que se entrelaçam e define o destino do casal de amantes.
Uma estréia turbulenta do diretor Alex Carvalho, mas muito promissora e auspiciosa.
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