Atuação do trio de atrizes é o grande destaque do espetáculo “Três Mulheres Altas”
A peça “Três Mulheres Altas” de Edward Albee já pode ser considerada um dos novos clássicos do teatro. A comédia dramática em dois atos ganha mais uma montagem no Rio de Janeiro, com direção de Rodrigo Philbert, tradução de Gustavo Pinheiro e um elenco magistral: Suely Franco, Deborah Evelyn e Fernanda Nobre. Confira a seguir a crítica do espetáculo:
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Em “Três Mulheres Altas”, as atrizes interpretam três mulheres em diferentes fases da vida, identificadas pelas letras A, B e C. Suely Franco é A, uma mulher doente com mais de 90 anos, que se perde em memórias e acontecimentos, enquanto repassa a sua vida para a Deborah Evelyn, a B, que se apresenta como uma espécie de cuidadora ou dama de companhia com 52 anos. Fernanda Nobre é C, uma jovem advogada de 26 anos responsável pela administração dos bens e recursos da idosa, diante de sua incapacidade de lidar com questões financeiras e burocráticas. Nos dois atos, os embates entre as três personagens transformam a passagem do tempo na verdadeira protagonista do espetáculo.
Texto de Albee é inteligente e ácido
O premiado texto de Albee une com maestria o drama e a comédia. O humor é perverso, daqueles que nos fazem sentir culpa ao soltar uma risada. O primeiro ato é dominado por A, que repassa aspectos marcantes de sua vida para B e C, enquanto potencializa as dificuldades físicas e mentais da velhice. Já no segundo ato, B é quem assume as rédeas da narrativa, trazendo para luz vários conflitos pelos quais as mulheres passam ao longo da vida: o tédio do casamento por conveniência, a infidelidade, o abandono do filho.
Para C, resta muito pouco no texto, e este é o principal ponto a criticar e que talvez precise de alguma atualização. Os pontos de conexão com as demais são a sexualidade, e a expectativa do que viria a ser no futuro. Ainda que a reflexão principal seja o passar do tempo e o envelhecimento, mulheres de 26 anos hoje realizam muito mais e ficam menos à mercê de um futuro brilhante com a ajuda de um marido rico. Além disso, vale a ressalva que o recorte é uma burguesia branca, retratando uma realidade que pode ser inalcançável para algumas pessoas.
Atuações sensíveis e qualidade técnica valorizam o espetáculo
As três atrizes estão inspiradas e unem experiências distintas no palco. Ver Suely Franco atuar com tanto vigor com mais de 80 anos é um presente. Após o primeiro ato, quase acreditamos que ela está realmente debilitada, até vê-la retornar como uma diva no segundo. Deborah Evelyn carrega o piano maior, com alta carga dramática e pausas ensurdecedoras ao falar sobre temas sensíveis. Fernanda Nobre faz um excelente trabalho como ponto de tensão entre B e C, ainda que o texto não contemple bem a mulher jovem contemporânea.
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A articulação em cena de três atrizes com trajetórias profissionais tão distintas é fruto da competência do diretor Rodrigo Philbert, que encoraja a mútua compreensão das personagens para uniformizar as atuações, de modo a catalisar as experiências de cada uma para o espetáculo. Tecnicamente, a peça é impecável. O cenário de Natália Lana traduz uma aristocracia em mobiliários pomposos, uma cama repleta de almofadas, como se preenchessem o vazio da senhora idosa.
A aparência suntuosa da cena se completa com a iluminação de Vilmar Olos, que utiliza diferentes matizes, alternando entre tons mais suaves e outros mais intensos. Nesse contexto, Philbert destaca a trilha sonora de Maíra Freitas em momentos importantes das falas. Dessa maneira, define o ambiente de conflito e suaviza uma retórica por vezes excessiva. Tudo isso vem amparado pelos figurinos e o visagismo de Tiago Ribeiro, que veste três mulheres com a alta sociedade.
Por fim, “Três Mulheres Altas” é uma peça que retrata a humanidade acima de tudo. Ácida, arranca risos nervosos, porém humanos, independente da fase da vida em que o espectador esteja. Ainda que direcionada a um recorte social específico, a peça cumpre seu principal papel: a reflexão sobre a passagem do tempo e como enfrentamos as dificuldades de cada fase da vida.
Imagem Destacada: Reprodução/Instagram (Via: @tresmulheresaltas)
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