O que dizer sobre um filme baseado em quadrinhos em pleno 2024, considerando que o subgênero se encontra há muito degradado e esgotado pelas inúmeras produções da Marvel e da DC lançadas nos últimos anos? A análise torna-se complexa, pois existe o risco de se ser injusto em uma crítica excessivamente severa a um material que, em última análise, não chega a ser completamente desprezível. Ou seja, ao deixar o cinema com o sangue fervendo, é tentador despejar as palavras mais negativas que um texto pode conter, e exagerar em virtude da má vontade por este tipo de filme, que se iniciou após a estreia do primeiro “Homem de Ferro”, lá no longínquo 2008. Naquela época, a Marvel não imaginava que o formato geraria, no futuro, sentimentos tão ruins em parte do público, que atualmente não aguenta mais tanta repetição.
Por isso, foi necessário um tempo de reflexão após o término da sessão de “Venom 3: A Última Rodada”, um intervalo essencial para retirar o filme da categoria de inassistível e colocá-lo na de muito ruim. Em retrospecto, não é possível afastá-lo significativamente de outras produções anteriores do subgênero, incluindo algumas que muitos apreciam (veja a má vontade citada acima se manifestando). Todos os elementos de um “filme ruim de super-herois que na verdade é um vilão na sua origem nos quadrinhos” estão presentes: piadas extremamente sem graça e até ultrajantes, um roteiro superficial que apresenta personagens dos mais clichês, como o militar desprovido de inteligência e a cientista atormentada por traumas do passado. É evidente, acima de tudo, que nenhum deles é desenvolvido de forma que o espectador se importe minimamente com seus destinos.
Leia Mais: Abraço de Mãe | Claustrofobia e Terror Psicológico Brasileiro
Além disso, os inimigos de “Venom” são tão banais que é difícil acreditar que foram incluídos no filme, uma vez que se assemelham a meros capangas em formato de baratas, enviados pelo que deveria ser um vilão superpoderoso. Este, por sua vez, limita-se a tecer ameaças vazias enquanto permanece sentado em um trono aparentemente situado em um planeta distante. A justificativa é que ele está preso, aguardando a entrega de algo chamado cortex. Tal objeto está em posse de Venom, e é por isso que os capangas se dirigem à Terra. No entanto, para que consigam identificar o tal cortex, o simbionte precisa estar ativo. Assim, para justificar o salário de Tom Hardy, seu personagem, Eddie Brock, ganha algum espaço, já que seu companheiro precisa permanecer oculto em várias ocasiões. Curiosamente, em certo momento, essa regra é desconsiderada para que Venom possa dançar com uma mulher em um cassino, gerando uma das sequências mais constrangedoras que Hollywood já produziu, pois não faz qualquer sentido, ignora as regras estabelecidas pelo próprio roteiro e conta com um boneco digital dançando ABBA.
Leia Também: As Novidades da Crunchyroll na NYCC 2024 para 2025
Com todo esse desfile de horrores, “Venom 3: A Última Rodada” constrange seu espectador até o início do último ato. Neste ponto, algo altera a dinâmica do filme e lhe confere um mínimo de respeito frente à vergonha: as boas cenas de ação envolvendo as criaturas que lembram baratas, o exercício americano e vários simbiontes. Essa sequência ocorre na Área 51 prestes a ser desativada, e é conduzida por uma direção decente de Kelly Marcel, que consegue articular as diversas peças lançadas na tela em uma mise-en-scène coerente. Nesse momento, o filme também abandona as piadas absurdas e foca na pura ação. Isso o resgata do completo desprezo e leva o espectador a se perguntar: por que diabos não fizeram isso desde o início e esqueceram todo o excesso dito cômico, mas que não possui qualquer graça?
Obs.: Há uma cena após os créditos finais que definitivamente não vale a pena ser vista caso você esteja sem tempo.
Imagem em destaque: Divulgação/Sony Pictures Brasil
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.