Quando a arte é uma questão de cor
Em “American Fiction“, Thellonious Ellison ou “Monk”, é um escritor negro, extremamente catedrático e com muitas dificuldades de emplacar seu próximo livro.
Como também é professor universitário, em uma aula propõem uma provocação que ofende uma aluna e essa situação é escalada, o que lhe causa uma “licença” forçada.
Aproveitando esse tempo e sem novas ideias que o favorecem para publicar seu novo livro constantemente cobrado por seu agente, volta a sua cidade natal onde encontra com sua família e passa por problemas nesse cotidiano.
A situação muda, quando ele se depara com um livro em particular cheio de estereótipos sobre negros que está fazendo muito sucesso no meio a ponto de transformar sua autora, em uma contida interpretação da comediante Issa Rae, uma celebridade que valida alguns absurdos.
Em uma noite etílica e no anonimato de um pseudônimo, resolve “jogar o jogo” e escreve um romance com os estereótipos dos quais sempre discordou em termos de arte que não só é bem aceito, como se torna um disputado produto inclusive cotado para se tornar um longa metragem nos cinemas antes mesmo da publicação!
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Essa sátira traz grandes questões de como não só a literatura, mas como na arte em geral os negros são representados nos Estados Unidos e propõe algumas reflexões fascinantes: o que se espera de um artista versus o que o artista quer apresentar ao público e o que esse cliente espera receber para consumir e “aceitar”.
Sobre isso, há uma analogia hilária sobre um determinado whisky que já nasceu clássica de tão absurda, mas por fazer muito sentido.
E na grande parte desses dilemas do personagem principal, seguem os diálogos afiados e muito bem escritos pelo estreante em longa metragens Cord Jefferson, por sua vez baseado no livro Erasure de 2001.
Como se trata de uma comédia dramática, traz estereótipos já conhecidos, aqueles tipos sem noção nem pensamento crítico por que afinal além de toda a situação, alguém “tem que ser” a piada.
Nesse contexto por mais que o texto seja afiado e realmente engraçado, tem lugares comuns como o conhecimento de um personagem misantropo, interpretado pelo excelente Jeffrey Wright, cuja história e os personagens giram todos em torno dele onde há o problema, o processo e por fim a mudança, como em diversas outras comédias com personagens rabugentos, inclusive envolvendo claro além dos problemas profissionais, dramas familiares que vão desde falta de afeto à aceitação.
Mas nada que tirem o brilho do filme mais bem humorado do Oscar com potencial para muitas discussões necessárias na sociedade em termos de arte, ancestralidade e o estado das coisas.
Uma ótima estreia do roteirista e diretor, que em entrevistas afirma que pensou especificamente no ator Jeffrey Wright como protagonista, agraciado com a indicação ao Oscar de melhor ator sem o qual não conseguiria realizar o filme da forma que imaginou, cercando-o de coadjuvantes tão carismáticos quanto necessários para essa jornada, tanto que outro destaque, Sterling K. Brown, mais conhecido por seu papel na série “This Is Us“, também está indicado ao Oscar como o personagem que é o mais sincero e traz o caos narrativo necessário para entendermos não só as dúvidas e receios de Monk o personagem principal, como o impulsiona ao enfrentamento de todas as situações pelas quais ele passa.
O filme estreia no Brasil, diretamente no streaming da Prime Video em 27 de Fevereiro de 2024.
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