Kate (Clémence Poésy) e Justin (Stephen Campbell Moore) são um casal de classe média alta que mora no subúrbio de Londres e estão esperando não só seu primeiro filho, mas também a mudança dos novos inquilinos para o apartamento do andar debaixo. Eles demoraram muito para tomar a decisão de ter um bebê, mas Jon (David Morrissey), um confiante homem de negócios, e Teresa (Laura Birn), uma autônoma, os novos vizinhos, tentaram mais de uma vez sem sucesso. Quando se mudam, eles tentam ser amigos, mas o envolvimento entre os casais acaba se tornando uma batalha psicológica de vontades e um suspense sobre obsessão materna.
O roteiro, que também é assinado pelo diretor, é visivelmente uma tentativa, um pouco frustrada, de ser Polanski. Em alguns pontos ele até consegue, mas o trabalho do mestre é muito forte visualmente para ser alcançando no terceiro filme de Farr. Temos uma boa estrutura narrativa, tanto escrita quanto visual, uma atmosfera plástica e bizarra que dá um bom tom as performances, mas ainda falta muito. De sua filmografia “Hanna”, lançado em 2011, que foi seu segundo longa, ainda é a sua melhor direção e mostra mais sua identidade como diretor.
Podemos até ter dois casais no filme como protagonistas, mas o casamento perfeito aqui é na parte técnica, entre o Design de Produção, de Francesca Balestra e Di Mottola, e o Figurino de Sarah Blenkinsop. O primeiro nos dá duas atmosferas de extrema representatividade para compreender as personas em seu habitat natural. Enquanto Kate e Justin possui um apartamento relativamente organizado, em tons cinzas e muita madeira, como representação da razão e força entre o casal, Jon e Teresa chegam como uma fantasia colorida e clean, predominada pela estabilidade do azul e o chamariz do amarelo. No decorrer do filme vemos essas oníricas estruturas visuais ruindo junto com o figurino, que absorve e demonstra as “camadas” de cada um, ali apresentados.
Outro ponto interessante do filme é a direção de fotografia de Ed Rutherford que consegue trabalhar a estabilidade de forma sutil a ponto de retratar a instabilidade dos personagens. Ele também consegue dar o tom frio de forma coerente em sua estrutura de cores e ainda explora a possibilidade de existir beleza na fotografia estourada pelo reflexo da luz.
Clémence Poésy vem inquietante e até surpreendente em seu papel, mesmo não sendo uma atriz das mais memoráveis até o momento. Já Stephen Campbell Moore, serve como “apoio” para fazer a Kate de Poésy crescer na trama, e o faz, ainda que pudesse ter sido realizado de uma forma melhor. David Morrissey vem como uma versão classuda de seu personagem “O Governador” de The Walking Dead e em nada surpreende, ao contrário de Laura Birn que vem meio espalhafatosa e acaba ganhando um enorme destaque com a profusão psicológica de Teresa.
“No Andar De Baixo”, deixa um pouco a desejar embora seja um exemplar regular para o audiovisual. Um dos maiores pontos críticos é o fato do diretor ter escolhido explicar todos os detalhes finais e ter perdido o ponto certo para acabar sua história de maneira verdadeiramente intrigante. Porém, se você é do tipo que não confia em ninguém, o longa vai ser um prato cheio para a sua paranoia conspiratória.
*O filme ainda não possui trailer com legendas em português e foi visto durante o Festival do Rio 2016.
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