Nostalgia x Modernidade | Será que o remake de “Matador de Aluguel” é bom?
A Amazon Prime Video lançou recentemente o remake de “Matador de Aluguel” (“Road House”), dirigido por Doug Liman (“A Identidade Bourne”, “Sr. e Sra. Smith”) em que o astro Jake Gyllenhaal, traz uma nova abordagem para o leão de chácara Dalton que, como um cowboy solitário, chega a uma determinada cidade para colocar ordem em um determinado estabelecimento que está sendo ameaçado pelo empresário déspota da vez.
Papel interpretado no distante 1989 pelo saudoso astro Patrick Swayze (“Ghost – Do Outro Lado da Vida”), as abordagens escolhidas para tratar o protagonista divergem e muito em termos de personalidade e estilo que serão abordados a seguir.
A título de esclarecimento, nenhum dos dois é um “matador de aluguel”, pois não foram contratados para matar ninguém, apenas são os seguranças dos estabelecimentos, mas pelas circunstâncias…
Personalidade
O Dalton de Patrick Swayze é formado em filosofia pela Universidade de Nova York e tem um jeito zen de encarar a vida, inclusive chega a proferir em um momento no filme, que ninguém ganha em uma luta.
Seu treinamento além de socos e chutes em saco de areia, inclui movimentos fluídos de Tai Chi Chuan, para os olhos incrédulos de um fazendeiro que lhe aluga um quarto em um sítio a beira de um lago, na cidade de Jasper onde se hospeda.
Conhece totalmente como funciona um bar em termos de atendimento, fornecimento de bebidas por exemplo e sabe como conduzir as situações para beneficiar os clientes e proteger seus colegas de trabalho.
Calmo e ponderado, só entra em combate quando realmente é necessário, mas de forma rápida e resolutiva.
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Com Jake Gyllenhaal, Dalton é um lutador famoso e ex campeão de UFC que, por alguma razão que será explicada posteriormente, abandonou precocemente o esporte.
É calmo também, mas até pela sua história de vida diferente chega a ser desinteressado, preguiçoso às vezes e, em algumas ocasiões, nem se envolve nas brigas do bar ou se safa do trabalho apenas pela sua fama.
A cidade da vez, ao invés do interior dos Estados Unidos, é o litoral em Flórida Keyes e, ao invés de um sítio, seu Dalton se hospeda em barco na marina.
Uma curiosidade entre Swayze e Gyllenhaal, é que ambos já contracenaram juntos no suspense psicológico “Donnie Darko”.
Habilidades
Aqui é que as coisas realmente se separam, pois as coreografias do filme de 1989 embora tenham, sim, um pequeno grau de artificialidade, são muito mais orgânicas, inteligíveis e elegantes.
O espectador consegue ver exatamente todos os movimentos de Patrick Swayze, que luta e se move como um felino, benesses dos tempos em que o ator era dançarino, que inclusive lhe serviu demais em outro clássico dos anos 80, “Dirty Dancing”.
Ele é rápido, certeiro traz um grande repertório de movimentos e leveza até ao andar.
O Dalton de Jake é realmente mais feroz, violento e efetivo fazendo de cada golpe um castigo divino aos oponentes, como se cada soco o meliante fizesse por merecer e só ele pudesse puni-los da forma mais adequada, mas…
Tem muito, mas muito CGI! Até na primeira sequência que é engraçada e estabelece o quanto ele é superior aos adversários comuns, é possível ver o efeito em que seus tapas são acelerados na edição, dando a impressão de uma velocidade sobre humana.
E também tem os momentos “bonecão digital” em alguns momentos de ação e da luta final.
Entende-se que hoje há uma nova forma de fazer Cinema, e os ferimentos à bala na série “Jonh Wick” são digitais, mas quando trocam dublês por contra partes digitais em lutas mano a mano, parece demais.
E Gyllenhaal caprichou na preparação corporal, como dizem, no shape! Está totalmente em forma e faz crer que realmente é um atleta capaz, que só não está ainda nos ringues pela eventualidade que é explicada ao longo do filme.
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Coadjuvantes
Essa é uma das diferenças que geralmente não se destaca em um filme (injustamente), mas no caso desse remake o peso é muito grande para não haver menção.
A começar pelo primeiro filme: o amigo de Dalton que chega para lhe dar um apoio, o Wade Garret de Sam Elliot não só traz um pouco mais do passado misterioso do herói como também uma âncora emocional quando as coisas começam realmente a desandar.
O interesse romântico de Patrick Swayze no filme, também é bem melhor construído na atriz Kelly Lynch que, embora seja apaixonada por ele, o cobra de forma veemente quando descobre o quanto esse Dalton pode ser orgulhoso e o quanto ele está disposto a se sacrificar para se impor ao vilão.
Já a banda oficial do bar, neste filme é só uma e tem o espetacular Jeff Healey,um músico cego, que toca alguns covers clássicos do rock. Ele também é amigo de outros bares de Dalton e o informa de como as coisas estão na cidade de Jasper.
Voltaremos a ele depois!
Ou seja, Dalton tem uma certa rede de apoio e que, em determinados momentos, pode contar. Até a garçonete Carrie é mais ativa e tem participação em uma música no filme.
Quanto o filme de Gyllenhaal, até por ser uma estrela de grandeza e alcance maior do que Swayze já teve, os realizadores decidiram que só ele era o suficiente. Tanto é que até seu par romântico, a interessante Daniela Melchior, que estava tão bem em “Esquadrão Suicida”, aqui está apagada e sem graça.
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Vilões
Aqui também temos uma enorme diferença entre as obras.
Enquanto no primeiro filme temos Ben Gazarra, homem de meia idade, um empresário beligerante, violento e inescrupuloso, que às vezes coloca ele mesmo a mão na massa para intimidar seus capangas e até diretamente o herói.
No filme de 2024 o vilão é literalmente um filhinho de papai que até admira o Dalton ex-campeão de UFC, tem ataques histriônicos de fúria e é interpretado por Billy Magnussen – que tem feito filmes demais como esse personagem, o típico loiro bobo de produções como “A Noite de Jogo” e “007 – Sem Tempo para Morrer”.
Os dois são funcionais, mas o de Ben Gazarra no filme anterior é uma ameaça maior, por ter bem mais experiência e, embora como o de Billy, use pessoas conhecidas para atingir os Dalton’s, conhece bem mais o terreno por ser morador da cidade e saber a particularidade de cada habitante da região.
Luta Final
Aqui é onde os filmes são bem mais distintos.
O combate final do filme de 1989, entre o “dançarino” Swayze e seu oponente Billy, acontece à noite em frente a um lago, e traz um estilo mais clássicos de socos rápidos, chutes giratórios e com saltos espetaculares. A cena é mais voltada para artes marciais tradicionais e com poses plásticas, filmadas tradicionalmente com planos, contra planos, zoom in, zoom out, close ups.
Já o combate entre Gyllenhaal e Connor McGregor (sim, ele mesmo, o multicampeão de UFC), acontece em plena tarde ensolarada no bar em frente ao mar, com direito a cabeçadas, raspagens e quedas do UFC que poderiam levar qualquer oponente normal, no mínimo, à nocaute ou direto para hospital.
Tem movimentos bem legais e até a emulação de câmera em primeira pessoa de quem ataca e quem recebe os golpes, uma forma moderna de apresentar os combates exatamente como e em um vídeo game. O que pode agradar muito os espectadores modernos e trazê-los para o filme, além também do uso exagerado de drones, que capturam o cenário com maior alcance e amplitude.
Ou seja, é normal e até o ideal em casos de remakes e reboots, trazer novos pontos de vista e abordagens de acordo com o estado das coisas atuais e as ferramentas cinematográficas à disposição.
Mas há de se pensar que no caso de mudanças tão radicais, porque não criar um produto novo ao invés de tentar se escorar somente no nome de um filme, que está longe de ser um clássico, mas apenas um filme muito divertido feito no final dos anos 80?!
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O novo “Matador de Aluguel”, de 2024, infelizmente não tem charme, não é divertido como tinha o potencial de ser e só se salva no talento e um certo comprometimento do seu astro. E Jake Gyllenhaal parece em alguns momentos estar se divertindo, mas é pouco e o filme é bem esquecível.
Ao passo que o filme de 1989 em que cabia, sim, uma nova visão, permanece com seu charme e sensualidade cafona intactas. E é um belo exemplo de diversão, mesmo que tenha todos os elementos de sua época, caso contrário não teriam gasto tanto tempo, dinheiro e recursos em um remake.
Pena que, às vezes, nem todo dinheiro do mundo e profissionais de renome, trazem qualidade a um projeto genérico.
Uma última observação: Quanto à música, até nisso o anterior é melhor. Lembrando o saudoso Jeff Healey mencionado anteriormente, segue o petardo musical que é a versão da música de Bob Dylan, “When The Night Comes Falling From The Sky”, que traz a energia e personalidade do filme de 1989.
Ou seja, neste caso, apontar a superioridade da primeira versão não é questão de nostalgia, mas realmente de envolvimento e qualidade. Veja e Ouça abaixo.
Imagem Destacada: Divulgação/MGM
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