Uma autobiografia do cantor Humberto Gessinger, narrando não só sua trajetória de vida, mas o início e caminhada da banda de rock pop Engenheiros do Hawaii. Publicado pela Editora Belas Letras em 2009, é seu segundo livro dos 5 já publicados pela Editora.
Difícil de falar é sobre autobiografia, já que este gênero literário pode conter uma mescla de egoísmo e cuidado com a própria imagem, fora que muitas das vezes pode conter histórias não verdadeiras ou até mesmo a omissão de certos fatos que mudam a visão do leitor para determinada ocasião, assim também, como bem sabemos, a visão que temos de nós mesmos nem sempre é o que realmente somos, porém ler uma autobiografia é conhecer histórias que só quem viveu sabe, sentimentos que só que passou saberá narrar, e isto já é o suficiente para redimir o autor de certas falhas de omissão.
“Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter…”
E, por falar em citação, um dos pontos que mais chama atenção em toda a obra são as citações das letras de sua composição, meio que a dar uma explicação de onde surgiu a inspiração para determinada canção, tornando a leitura agradável e de fácil compreensão.
E, por falar em agradável, nada melhor do que ler mais de 150 páginas de prosa poética e filosófica, mesclando letras de músicas incríveis que te faz parar para cantar mentalmente cada uma delas e refletir sobre o que diz e a sua relação com a vida não só do autor, mas as nossas também!
E, por falar em vida, que vida a deste cantor e compositor, que ao longo das páginas se revela um bom escritor e pensador, contrário do que ele mesmo diz ao escrever: “(…) é um erro que cometi: tentar escrever certo. (…) Nem todo mundo pode ser gilchicaetano, juntar forma e conteúdo, correção política e gramatical.” É, realmente nem todo mundo pode ser gilchicaetano, mas aqui, este conseguiu alcançar tal feito!
E, por falar em tal feito, que bem feita a diagramação da obra, trazendo fotos incríveis de sua juventude, as capas dos discos e CDs, rascunhos de canções, capas de revistas e jornais onde saíram estampados, desenhos de sua autoria, fotos de seus instrumentos, trechos dos chats mensais que eram realizados e como não poderia deixar de ser, para enlouquecer qualquer fã, ou mesmo “não fã”, mais de 100 páginas com letras de músicas e algumas explicações sobre elas, não todas, mas o suficiente para entender muita coisa!
E, por falar em muita coisa, muita coisa fica sem os pingos nos “is” ao longo da narrativa, mas propositalmente, como podemos ler muitas vezes: “isso e aquilo foi bom, mas ruim, e bom…” ou o contrário: “isso e aquilo foi ruim, mas bom, e ruim…” quase a nos dizer: não toquemos neste assunto, para quê se aprofundar nisto, não é? Como é o caso das diversas mudanças na banda e o entra e sai de parceiros, sem muita explicação, ou como diz a música:
“A nossa trajetória não precisa explicação, e não tem explicação”.
Uma autobiografia não só para quem é fã, mas para quem gosta de música, poesia, filosofia e até mesmo história, mas esta com H maiúsculo mesmo!
Leitura que encanta e dá um gostinho de quero mais, dando ao leitor o desejo de consumir seus outros escritos, já que como Gessinger mesmo diz, escreveu com o coração:
“Escrevi com o coração e tentei não ser um cardiologista. Ignorei a proporcionalidade racional entre fatos importantes e irrelevantes. Se me estendi sobre bobagens e esqueci lances cruciais, deve haver algum motivo. Depende da distância, longe ou perto, dentro ou fora.”
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