São Paulo dos Mortos

19 de setembro de 2017
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A resenha desta semana vai para mais uma grata surpresa que conhecemos na UgraFest, realizada em julho deste ano. Trata-se de São Paulo dos Mortos, um projeto de Daniel Esteves que conseguiu um ótimo financiamento coletivo no Catarse em meados de 2013. A ideia central de Daniel foi pegar a temática das estórias de zumbis (tema em alta por conta da série e dos quadrinhos de Walking Dead) e ambientá-las na cidade de São Paulo. Nós particularmente gostamos desse tipo de contextualização regional, pois passa um realismo e uma empatia muito mais intensa para o leitor. Claro que essa sinergia será maior para leitores paulistanos graças às locações escolhidas e os “sotaques” retratados nos diálogos.

Este primeiro volume conta com cinco histórias fechadas e ilustradas por diferentes artistas. Temos aqui duas decisões interessantes, sobretudo se levarmos em consideração se tratar de uma nova revista a ser colocada no mercado. Trazer HQ curtas e fechadas permite testar estilos narrativos bem como abordagens mais sérias ou cômicas, como foi de fato feito. Da mesma forma, convidar artistas diversos confere uma riqueza visual que tem potencial para agradar a diferentes gostos pessoais.

“Próxima Estação” ´- Na primeira HQ do álbum uma mulher se esconde entre as estações de metrô, para fugir dos zumbis que infestaram a região. Ela nos conta toda sua história, através de narrações em primeira pessoa. Além disso, a própria narrativa visual nos leva para “dentro” da personagem, através de câmeras subjetivas. A personagem está faminta, porém o medo de comer algo infectado é maior. O principal destaque dessa HQ é a narrativa em primeira pessoa que consegue criar um ótimo clima de tensão.

“Com Você no Fim do Mundo” – Um homem alimenta e cuida de uma mulher transformada em zumbi. Ele enfrenta o fim do mundo para conseguir comida para sua paixão. Pega restos de corpos, arriscando-se em meio ao apocalipse zumbi. Quando fica mais difícil sair às ruas ele tem que buscar alternativas para sustentá-la. Essa é a história mais trash, porém mescla elementos de humor sarcástico bem colocados.

“Vício” – Um casal classe média foge dos zumbis em seu luxuoso carro, cruzando a região da Luz, próximo da cracolândia. Após uma abordagem policial desastrosa, a esposa contará com uma ajuda inesperada para fugir dos zumbis. Achamos essa história a mais fraca, pois o roteiro parece superficial e com alguns furos.

“Itaquerão” – Três garotos sobrevivem ao fim do mundo em Itaquera, periferia de São Paulo. Em meio às conversas sobre desejos loucos, eles resolvem invadir o Itaquerão, estádio do Corinthians, a fim de jogar futebol no tão sonhado templo sagrado. Sonham encontrar com os jogadores do clube de coração deles, pois dizem que eles ficaram refugiados lá dentro do estádio, sobrevivendo ao apocalipse zumbi. Essa HQ remete muito à infância e adolescência de quem já passou dos 30, mas pode cansar um pouco por conta do excesso de alusões futebolísticas.

“Carona para o Governador” –  Gisele trabalhava no Palácio dos Bandeirantes. Em meio à confusão causada pelo apocalipse zumbi, ela ficou presa no local. Com o agravamento da situação o governador tem que fugir com uma equipe de seguranças e policiais enfrentando os zumbis nas ruas. Em meio a um conflito com zumbis, Gisele é escalada para dirigir o carro que vai salvar o governador. Ótimos toques de crítica social misturados à ação intensa fazem dessa HQ uma história bem concisa.

São Paulo dos Mortos – já teve mais volumes editados seguindo a mesma premissa, histórias de zumbis ambientadas em São Paulo. A força desta primeira edição é notável pela diversidade já citada. Os demais volumes possuem histórias mais longas, portanto uma pegada diferente. Para ambos os formatos vale muito a pena conhecer e apreciar.

ROTEIRO e EDIÇÃO: Daniel Esteves

ARTES: Al Stefano, Alex Rodrigues, Jozz, Ibraim Roberson, Lucas Perdomo, Laudo Ferreira, Omar Viñole, Samuel Bono, Wagner de Souza.

CAPA: Wanderson de Souza e Al Stefano.

FORMATO: 16×25 cm, 96 páginas, miolo P&B, capa colorida.

DATA DA EDIÇÃO: novembro de 2013

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