Baseado na peça “Now or Later” do dramaturgo Christopher Shinn, o espetáculo “O Filho do Presidente” é o primeiro texto do autor que ganha uma tradução – realizada por João Polessa Dantas – e montagem no Brasil. O autor, que já ganhou alguns prêmios por seus texto, incluindo o Prêmio Pulitzer em 2008, o escreveu há dez anos atrás, mas torna-se quase atemporal pelas temáticas abordadas: liberdade de expressão, fundamentalismo religioso, direitos humanos, jogo de poder, homofobia entre tantas outras que se fazem, infelizmente, mais presentes do que nunca no ano atual.
Destacamos a coragem dos idealizadores da montagem em trazer para os palcos cariocas essas questões tão importantes e urgentes. É maravilhoso perceber em tempos em que o riso fácil e descompromissado e espetáculos com temáticas mais brandas se apresentam como uma saída, também mais fácil, para levar o público aos teatros do Rio de Janeiro, termos artistas engajados em militâncias e que transbordam isso também em sua arte nos palcos.
“Perguntas em torno da liberdade, religião, direitos humanos e políticas em geral são centrais em muitos países, não apenas no meu país. É incrivelmente excitante para mim que minha peça esteja sendo vista no Brasil. Como escritor, sempre estou tentando escrever com detalhes e especificidade sobre minha cultura – mas minha esperança é que, através desse processo, eu consiga alcançar algo universal. Eu desejo contribuir, de uma maneira tão pequena, para a conversa global em curso sobre as instituições que estruturam nossas vidas.” diz o autor Christopher Shinn
A história se passa na sede do partido Democrata, em um hotel no sul dos Estados Unidos, onde o vazamento de fotos do filho Jhon – interpretado pelo ator e co-idealizador Felipe Cabral – do então candidato a presidência Sr. Jhon – vivido pelo ator Anselmo Vasconcellos – vazam na internet e poem em risco toda a campanha realizada até aquele momento, o dia da apuração final dos votos. Estabelece-se dessa forma um clima de tensão, conflito, mágoas e ânimos exaltados em cada um dos personagens. Compõem o elenco ainda Ingra Liberato, Hugo Lobo, Rodrigo Candelor e Vanessa Pascale que ajudam no desenrolar do enredo e trazem também momentos de alívio cômico.
A direção de Marcus Faustini com assistência de Juliana Stokler é bastante clean e sem muitas surpresas, dando destaque à verborragia que se estabelece desde o primeiro momento do espetáculo. Ali o texto fala mais alto. A tensão é a palavra de ordem que rege os corpos dos atores em cena, mesmo durante as cenas de descontração, seja pela situação em que se encontram pela exposição das fotos polêmicas vazadas, pela expectativa do resultado final das eleições à presidência ou ainda pela posição social de cada um deles.
A cenografia de Fernando Mello da Costa com assistência de Eduard Monteiro e Rostand Albuquerque, baseia-se em poucos elementos, porém pomposos e extravagantes, como é de se esperar que uma família presidenciável e conversam em sintonia com o figurino assinado por Carol Lobato que reafirma o nível social de cada um ali e consegue fazer distinção do único personagem que não faz parte da família diretamente, o amigo interpretado por Hugo Lobo, mas que também se enquadra no mesmo nível socio-econômico dos outros.
A iluminação assinada por Aurélio de Simoni com assistência de Guiga Ensá, também segue a linha clean da direção, sem muitas variantes, mas em momentos chaves acentua a tensão exposta em cena. Em alguns momentos antecipa o clima que será instaurado com a chegada de determinados personagens.
O espetáculo esteve em cartaz desde o início de novembro e finalizou sua primeira temporada este fim de semana no Teatro da Caixa Nelson Rodrigues, recém reformado e aberto, que fica no Centro do Rio de Janeiro.