De certa forma, todo ano essa curiosidade vem a tona e ultimamente pela boca dos próprios participantes. Seja por Manu Gavassi ou, mais recentemente, Vanessa Lopes — que tem se confundido sobre a obra — “1984”, livro de George Orwell, foi uma das inspirações para o reality show, e não o contrário, como a influencer apontou no BBB.
Um futuro possível?
Publicado em 1949, portanto 35 anos antes do ano do título, 1984 segue a vida de Winston Smith em um mundo de vigilância absoluta: há câmeras e microfones nas ruas, casas e, frente total lavagem cerebral, seus próprios filhos podem ser seus delatores sobre possíveis traições contra o partido.
Nessa sociedade, a propaganda é fundamental como mecanismo de dominação, e nosso protagonista trabalha no Ministério da Verdade, onde trechos de jornais e revistas são alterados de forma a reescrever a história de forma a retratar o partido e a revolução sob uma ótica positiva.
Quando pego se questionando sobre aquilo que lê, Winston, que já se esquecera de como era a vida antes do partido tomar poder, se vê em um complicado novelo político do qual tampouco dá conta de tratar a respeito: a língua tem sido modificada de forma a se tornar mais “simples”, de forma que não seja mais possível formular pensamentos mais complexos e, portanto, questionar.
Sob o lema “O grande irmão está assistindo você” (“Big Brother is Watching You”), a sociedade vive sobre o domínio dessa enigmática e ‘admirável’ figura ditatorial, o Grande Irmão, e que serve como uma paródia explícita de figuras como Stalin e Hitler.
Já no Big Brother, o reality show, os participantes também estão sob constante vigilância. O telespectador possui poder de decidir quem sai e quem poderá viver mais uma semana, encarnando o próprio Grande Irmão. Nesse sentido, a crítica deu lugar ao tudo vale por entretenimento, por irônico que seja.
Vale a pena dar uma espiadinha?
Leitura é sempre um exercício muito pessoal, e mesmo não gostando de um final ou mensagem dá para se tirar algo da experiência, mesmo que seja somente entretenimento. 1984 tem ganhado mais popularidades nas últimas décadas e até se tornou um clichê de menção em redação de vestibular; como um clássico, não há dúvidas que, torcendo o nariz ou não, é uma leitura fundamental.
Jogos Vorazes, Round 6, Battle Royale; essas distopias tocam nos medos e ansiedades da época em que se escreve, também devem algo para Orwell e, entre outros, um livro que é tido como seu irmão mais velho: Admirável Mundo Novo, por Aldous Huxley.
Enquanto em Orwell as pessoas são controladas pelo medo e pela vigilância absoluta, em Admirável Mundo Novo — alô, Pitty — o estado de inércia e distopia decorrem da dominação dos homens pelos prazeres e pela quantidade de informações à disposição ser tamanha que já não se consiga lidar com as coisas em um mar de futilidades. Rivalidade de distopias?
Para os que forem se aventurar nas páginas de 1984, vale o conselho de que esse não é um fim de si mesmo, tampouco uma profecia — a novilíngua não é uma realidade e não existem, cientificamente, línguas mais desenvolvidas que outras. Faltou algo mais? Ah, sim, já temos analogias políticas demais — rasas, aliás — feitas com Orwell.
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