Em cartaz até o dia 02 de novembro no Teatro dos Quatro, Zona Sul do Rio de Janeiro, a adaptação da companhia Os Betessetes da homônima obra icônica de Nikolai Gógol, dirigida por Eduardo Vaccari, vem conquistando crítica e público ao longo das temporadas – sim, esta já é a segunda! Intrigados pelo sucesso do caso de Akkaki Akakievitch em busca de um novo capote no frio da Rússia de 1842 (e curiosos para assistir), nós daqui da Woo! Magazine fizemos uma entrevista com a galera e o resultado só nos animou e deixou mais curiosos ainda!
Confira aqui as 5 coisas que você PRECISA saber sobre O Capote:
Quais foram as inspirações que pautaram a adaptação?
Durante os ensaios, o nosso diretor Eduardo Vaccari trouxe muitas referências do circo e também jogos teatrais. Essas referências estão presentes em quase todas as cenas do espetáculo. Nós também investigamos a cultura russa e o contexto político da época para entender o que acontecia naquela Rússia de 1842, ano em que Gógol escreveu o conto. Isso criou uma base espetacular para a criação tanto da direção, como dos atores. Tivemos muito cuidado em sermos fiéis ao conto do Gógol, que com toda a sua genialidade e sensibilidade consegue divertir e comover o leitor quase que de forma simultânea, mas também nos permitimos algumas licenças poéticas como, por exemplo, na cena do desfile de moda (referência contemporânea) onde o personagem Petrovich, um alfaiate de São Petersburgo, delira comemorando a sua “nova coleção” de capotes. O tempo inteiro nós revelamos que são os personagens de outra repartição pública que estão tentando reviver a história, cada personagem conta a história do seu jeito, de acordo com o seu ponto de vista e imprime a sua marca, o que é nada mais nada menos do que o oficio do ator. Em nossa versão, os personagens se divertem e se comovem contando a história, o que não deixa de ser uma homenagem ao autor.
Quais os maiores desafios que O Capote enfrentou?
O nosso maior desafio foi fazer com que um texto clássico importantíssimo adquirisse frescor sem perder a sua força. Adaptar uma obra literária para o teatro já é um desafio, fazê-la com referências anacrônicas sem que perca a essência é um desafio duplo. Em “O Capote” todas as escolhas são justificadas, nada é gratuito.
Um dos diferenciais da peça é a forma que aborda o humor e traz ao espectador um paralelo com o que vivemos. Você poderia contar um pouquinho sobre o processo de criação da adaptação?
Nós colocamos uma lente de aumento nas situações que já estão lá no conto do Gogol. Se você parar para pensar, você vai ver que o nosso cotidiano é muito cômico, a gente que não tem tempo ou oportunidade de extrair humor das situações do dia a dia. E claro, porque nós vivenciamos. Os personagens da peça também não acham graça daquela burocracia absurda, do abuso de poder, da incompetência… Eles estão acostumados, aquilo faz parte da sociedade em que eles vivem. O humor se dá quando viramos espectador e nos reconhecemos nas mesmas situações. Acho que o nosso trabalho foi baseado nesta lógica. Acredito que os espectadores riem com certo incomodo, porque é uma crítica pesada à burocracia, à hipocrisia e ao materialismo, coisas que estão muito presentes no cotidiano de todos.Tomando como ponto de partida o pensamento de que obras de criatividade transformam a nossa visão de mundo, quem não pode deixar de ver a peça?
Este espetáculo tem uma crítica social muito forte e sugiro para quem está insatisfeito com a burocracia, com a hipocrisia e com a falta de amor ao próximo vá assistir “O Capote” e reflita conosco.
Afinal, em tempos de crise e insegurança no país, seria possível concordar com Dostoiévski se referindo à Gógol quando dizia que “somos todos filhos d’O Capote?
Desde que o mundo é mundo, existe crise. A na época do conto a Rússia vivia um período de insatisfação muito grande: o povo estava profundamente incomodado com os privilégios de uma minoria rica que detinha o poder e nada fazia pelos mais humildes. No conto, Gógol retrata essa situação com o “Personagem Importante”, algoz que o protagonista Akaki Akakiévitch foi procurar para resolver sua situação, mas claro que o tal personagem importante não estava nem um pouco interessado em ouvir as lamentações de um pobre funcionário, aquilo era uma afronta e aproveita para humilhar o coitado. Deste modo, é possível afirmar que Somos todos “O Capote”.
Quer saber mais sobre o espetáculo? Neste link abaixo para outras informações e nossa agenda 🙂
Até mais! Ou, como diriam os russos: до свидания – do svidaniya!
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Por Raísa Cabral
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