Nesse Dia da Mulher, por que não celebrar vozes femininas? Selecionamos oito grandes autoras e oito obras suas que não podem passar despercebidas pelos leitores iniciantes e de velha data. Quais são, afinal, as suas referências de mulheres na literatura? Deixe nos comentários!
Virginia Woolf e “Ao farol”
Sem dúvidas uma das mais influentes autoras de todos os tempos, a própria biografia de Virginia Woolf é um caso a parte, desde seus relacionamentos com outras mulheres como a luta contra a depressão e a forma de lidar com o fardo que era ser mulher na conservadora Inglaterra pós-vitoriana.
Sinopse: No original “To the lighthouse”, a trama segue uma família e sua ida ao farol em distintos momentos da narrativa. A jornada, que não é fácil física e psicologicamente, vai se tornando insuportável com o progredir dos anos e o acúmulo de memórias, a perda e a dificuldade na linguagem. O fluxo de consciência, sua marca registrada, encontra aqui a sua coroação.
Mercè Rodoreda e “A praça do Diamante”
Embora não seja uma das autoras mais “pop” aqui no Brasil, Mercè Rodoreda é um dos maiores nomes da literatura da Espanha e unanimidade na literatura catalã moderna. “La plaça del Diamant”, seu romance mais conhecido explora a Barcelona durante e após a guerra civil sob a ótica feminina e, embora não se considere feminista, sua obra explora a potência da condição humana como poucos conseguem.
Sinopse: Natalia é uma jovem que vive um relacionamento infeliz e abusivo durante a Guerra Civil Espanhola, presa às amarras do patriarcado e tendo que abrir mão de sua própria identidade por um casamento de fachada e para criar seus filhos — ao que a história da heroína se entrelaça com a da Barcelona, agora decadente.
Clarice Lispector e “Perto do Coração Selvagem”
Sendo parte indissociável da literatura brasileira, nem sempre à Clarice é feita a devida justiça, seja por experiências de leituras traumáticas durante os períodos de formação ou simplesmente porque essa fama também a ofusca (e mitifica), essa, sobre todas as outras da lista, possui uma obra que sem a menor sombra de dúvidas oferece coisas novas a cada leitura — o que falar de “A paixão segundo GH”?
Sinopse: o livro acompanha Joana em um vaivém entre infância e vida adulta. Ao que os acontecimentos de uma fase vão se misturando com os da outra, o leitor mergulha numa profunda e agridoce melancolia que talvez conte um pouco sobre nós mesmos.
Margaret Atwood e “O conto da aia”
Como falar de distopia sem mencionar Margaret Atwood? A autora canadense está longe de ser um delírio coletivo na lista de best-sellers, pelo contrário: Atwood condensa maestralmente as ansiedades sociais das mulheres num contexto de luta pelos direitos civis. Escrita em 1985, “The Handmaid’s Tale“, sua maior obra, não poderia estar mais atual.
Sinopse: Estamos em Gilead, um estado cristão fundamentalista formado após um ataque terrorista nos Estados Unidos. Em resposta à queda de fertilidade, mulheres com condições de gerar filhos são raptadas e treinadas como “aias”, escravas sexuais que são violentadas pelos comandantes.
Tendo casamentos anulados, perseguidas por suas sexualidades, perdendo seu nomes, a família e o direito sobre o próprio corpo, essa é a história da resistência e de como essas mulheres irão tentar derrotar o regime. O conto de aia nos mostra como os direitos, que criamos estarem garantidos, estão sempre em disputa e não são perdidos da noite para o dia — há vários sinais de antemão.
Carolina Maria de Jesus e “Quarto de Despejo”
Apesar de ganhar mais atenção nos últimos anos, Carolina Maria de Jesus escreveu um dos clássicos modernos da literatura lusófona (e mundial), mas apesar do reconhecimento em vida, morreu na pobreza.
Para além de um “desabafo”, o gosto pela leitura desde pequena está visível no seu estilo eloquente e desenvolto para com as palavras. Na sua obra, o leitor tem a disposição um mergulho direto numa literatura diametralmente oposta àquela exaltada em sua época.
Rosalía de Castro e “Cantares Gallegos”
Gosta de poesia? Rosalía de Castro é uma excelente porta de entrada para se apaixonar pela arte, quanto por conhecer um canto do mundo tão diferente, mas estranhamente semelhante ao nosso. Castro nasceu na Galícia, uma comunidade autônoma no noroeste da Espanha que os falantes de português possuem laços antigos.
Rosalía foi uma das pioneiras em escrever em uma língua cuja literatura estava praticamente morta há séculos, tendo sua era de ouro na era dos trovadores — aquela que estudamos na escola. A verdade é que a Galícia é também terra da língua irmã do português, cujas línguas se bifurcaram há muitos séculos. O galego, no entanto, perdeu a força e prestígio que tinha e se viu destinado a ser uma língua fadada a morte, sem literatura, “de campesinos” e “gente inculta”.
Até Rosalía.
Ao longo de sua obra, Rosalía conta de sua forma sobre causos e a saudade de sua terra, sobre a condição da mulher, a nostalgia pelo que não foi; tudo à sua maneira. À grande mãe/nái do galego se deve o Dia das Letras Galegas, tamanha sua importância. O melhor de tudo é que um falante de português não precisa fazer grandes esforços para ser tocado por suas palavras no original.
Inda vex’ onde xogaba
Fragmento de “Como chove mihudiño”, Cantares Gallegos (1863)
C’ as meniñas qu’ eu queria,
O enxidiño onde folgaba
Os rosales que coidaba
Y á fontiña onde bebia.
Isabel Allende e “De amor e de sombra”
É comum que introduzam Isabel como a “parente do presidente chileno assassinado no golpe de 73” e, embora isso explique o contexto político da qual esteja cercada, Isabel Allende é uma estrela de luz própria; uma das maiores escritoras de sua geração e com uma produção literária que arranca uma coisa nova do leitor a cada nova leitura.
Sinopse: No Chile dos anos 70, o casal de jornalistas Irene Beltrán e Francisco Leal começa a investigar desaparecimentos misteriosos meio à ditadura militar. Conforme se aprofundam, as histórias pessoais dos protagonistas irão se enredar com as do jogo político da época. Você faria o que acredita ser certo mesmo que sua vida esteja em grande risco?
Riyoko Ikeda e “A Rosa de Versalhes”
Vamos lá: este não é um livro propriamente dito, daí uma razão para figurar uma obra diferente na lista. Riyoko Ikeda é uma das mais influentes mangakás de todos os tempos, tanto pelo seu estilo quanto por capturar sua época, mesmo retratando um tema absolutamente ao Japão dos anos 60: a Revolução Francesa.
Sinopse: “Versailles no Bara” retoma a Europa a beira da Revolução Francesa, quando a princesa austríaca Maria Antonieta é prometida ao futuro rei da França, Luís XVI. Apesar de não ser protagonista, o romance dá luz à Oscar, comandante da Guarda Real, com quem Maria Antonieta passa a ter profunda conexão.
Oscar, na verdade, é uma garota, mas que vive sob disfarce masculino pelo insucesso dos pais em ter um herdeiro homem. A despeito do aspecto de fantasia, a audiência pode ter um vislumbre das tensões entre a espetacularidade de Antonieta e o clamor de um povo empobrecido — e furioso.
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