Espetáculo baseado no livro “A Alma Imoral” é sucesso há mais de dez anos.
Tudo começou quando a atriz Clarice Niskier conheceu o rabino Nilton Bonder no programa “Sem Censura”. Na ocasião ele estava lançando o livro “A Alma Imoral” e não imaginava que um encontro ao acaso poderia mudar sua obra. Depois da leitura, a atriz resolveu levar o livro para os palcos.
A peça estreou em um teatro para cinquenta pessoas em Julho de 2006 no Rio de Janeiro. Ninguém acreditava que um monólogo – em que a atriz fica nua o tempo todo – pudesse fazer sucesso há tanto tempo.
Quando a peça começa, ela explica como iniciou o projeto e avisa que quem quiser uma repetição de alguma parte do texto, basta pedir. Clarice reconhece que os ensinamentos do texto são profundos demais para serem digeridos de uma vez só.
“Toda moral, toda tradição, toda religião e toda lei são produtos do corpo moral. E toda a sociedade está voltada para vestir a nudez do ser humano.” – Nilton Bonder
A nudez da atriz se torna imperceptível ao longo da peça. É como se nos lembrássemos que todos nós nascemos nus. As roupas que usamos são mais uma prova da moral que veste nossos corpos.
O livro, que foi lançado em 1998 e reeditado em 2008, tem como base histórias do Velho Testamento, parábolas de sabedoria judaica, além de informações históricas e científicas. O monólogo aproxima temas como religião e biologia. Mostra-nos que a consciência humana é formada desta descoberta fantástica de que nossa tarefa no mundo não é apenas a da procriação, mas nas condições certas a de transcender a nós mesmos. Essa necessidade de transcendência, muitas vezes vista como uma forma de “traição”, será sempre vital para a continuidade da espécie. Este é o conceito de alma: uma força “traidora” que traz o poder das instruções do futuro, colaborando com a evolução da espécie.
Enquanto as tradições trazem o poder das instruções do passado, colaborando com a reprodução da espécie. Conservar a tensão e a dependência consciente entre essas duas grandes forças é o desafio do homem em suas relações pessoais e sociais. Manter em constante diálogo nossas forças conservadoras e transgressoras traz a possibilidade de vivermos num mundo menos violento, num mundo onde conflitos, medos e receios também existam, mas onde a tolerância ocupe um lugar privilegiado.
Para Bonder, a alma é o elemento do próprio corpo que está comprometida com alternativas fora deste corpo. E, enquanto o mesmo forja a moral para garantir sua preservação através da procriação, a alma engendra transgressões.
Um livro de profundo impacto na reflexão sobre o certo e o errado, a obediência e a desobediência, as fidelidades e as traições. Um convite a conhecer as profundas conexões entre o traidor e o traído, entre a marginalidade e a santidade, entre a alma e o corpo.
O autor gaúcho é bacharel em Literatura Hebraica, pela Universidade de Columbia, Mestre em Literatura Hebraica, pelo Jewish Theological Seminary em Nova York. Rabino da Congregação Judaica do Brasil (CJB), coordenador para a América Latina do Movimento Jewish Renewall e membro do Conselho Internacional pela Dignidade, Perdão e Reconciliação. Destacou-se pelos prêmios: Dean’s List – Por Reconhecimento Acadêmico Ano 1984,85,86; Prêmio em Literatura pela Universidade Hebraica de Jerusalém com o trabalho – “Misticismo e a obra de S.Y. Agnon” – publicado pelo Boletim Universitário, 1984; Samuel Held Memorial Prize – Por excelência em estudos Bíblicos, 1985; Lamport Homiletic Prize, 1987; Medalha Pedro Ernesto, Câmara dos Vereadores do RJ, 1994; Blanton Peale Prize – Best Religious Book of the Year, 1997; Prêmio Jabuti de Literatura – 2000; Best Jewish Writting of 2002 — Tikkun Magazine.
Esta proposta libertadora que alcançou sucesso cênico e literário fica em cartaz em São Paulo até o final de Maio.
Por Pitty Webo
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