Estreia de seu diretor, roteirista e ator principal impressiona pela criatividade da narrativa em “A Garota Artificial”
Desde filmes como “Metrópoles”, “Blade Runner, O Caçador de Andróides”, “A.I – Inteligência Artificial” (de Steven Spielberg), “Frankenstein” (vários filmes e o livro de Mary Shelley) e, claro, “Pinóquio”, os espectadores se fascinam pela ideia de uma máquina ou criatura aspirar a humidade superando seu/sua mestre/criador(a).
Pois eis que “A Garota Artificial”, 2022 escrito, dirigido e interpretado por Franklin Ritch, é mais um filme fascinante com esses temas, realizado com pouco orçamento e no fim da pandemia do Covid 19, que soma aprovações e recomendações por quem assiste, pela forma inteligente que se posiciona sobre os desafios da IA generativa e como essa ferramenta pode impactar na vida de todos em uma sociedade.
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E o começo não poderia ser mais intrigante com um jogo de gato e rato entre um jovem conduzido a uma sala mal iluminada em um dos porões de uma agência governamental americana, sendo acuado por dois agentes, um homem e uma mulher, a líder, com insinuações e acusações de um crime muito sério.
À medida que o tempo passa, descobre-se que o jovem é um hacker e tem algo a ver com uma menina de 9 anos chamada Cherry.
O que se desdobra logo mais é o início da trama que no decorrer do filme vai lançar as dúvidas e manter o conflito até o final da história, pois o rapaz de nome Gareth é literalmente o criador de uma IA (Inteligência Artificial) de nome Cherry que nada mais é que um programa de computador, um amontoado de pixels e programações que atrai criminosos e foi a responsável pela prisão de dezenas deles, pois, se adaptando a cada predador de menores, possibilita ao nosso “herói” a captura e entrega da dados a mesma agência dos 2 agentes que o prenderam na sala, o compreensivo e empático Amos (David Girard) e a durona e inquisidora Deena (Sinda Nichols).
A partir daí acompanhamos esses 3 personagens e mais a IA Cherry pelos próximos 50 anos (!) e temos o maior trunfo desse argumento, pois mesmo que a história se passe sempre em ambientes fechados gerando uma sensação de claustrofobia, a cinematografia nunca remete a um teatro filmado como poderia com um filme de baixo orçamento e elenco enxuto.
O filme consegue prender atenção e cada virada e teoria engendrada com muita esperteza pelo estreante em longas, Rich/Gareth, que extrai o que pode da premissa e transforma o filme em um estudo de avanços através do tempo.

Ainda tem uma participação mais do que especial do veterano ator Lance Henriksen, o androide Bishop em “Alien 2” de James Cameron, como o personagem que fará o confronto de ideias final com IA que, aliás, é interpretada com extrema competência e carisma por Tatum Matthews a melhor interpretação no filme, com sutis inflexões e registros levemente diferenciados que permitem aos expectadore(a)s acompanhar passo a passo a evolução de Cherry até a inevitável autonomia.
Estão no filme alguns dilemas morais e implicações diretas para humanidade sobre a possibilidade de perdermos o controle de nossas vidas e ou se e quando a IA pode algum dia evoluir a ponto de sermos substituídos por máquinas criadas por pixels, processadores e frases feitas, colhidas por trilhões de bytes que geramos em nossas interações com a internet a cada minuto.
Porém, lembrando que se trata de uma obra de 3 anos atrás, tem um viés um pouco otimista demais e não previu outras implicações como o uso letal da evolução na nuvem para uma avalanche de fakenews, vídeos, áudios e imagens com deepfake para criação ou substituição do rosto de pessoas em situações falsas (alguns são hilários, mas outros são assustadoramente bem feitos ou que no mínimo conseguem enganar milhares ou milhões de incautos) gerando desinformação e manipulação de estatísticas e até de eleições.
Não se trata de um fenômeno novo, pois tivemos isso no Brasil nas eleições de 2018, mas com certeza o filme subestima o uso da IA para a exponencial escalada dos malfeitos na vida moderna.
Porém, lembrando de filmes pequenos que ajudaram os amantes do cinema a extrapolar a imaginação e criaram obras que repercutem até hoje no imaginário popular como por exemplo o primeiro filme da cinessérie O Exterminador do Futuro (olha o James Cameron visionário aí novamente), A Garota Artificial é um desses filmes que aponta com ótimas observações e um argumento inteligente, novos caminhos para o cinema.
* Filme disponível na Amazon Prime e Apple TV+
Imagem Destacada: Divulgação/Prime Video

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