Estreia essa semana no país, depois de ter feito parte da programação do 18º Festival de Cinema Italiano o filme “Ainda Temos o Amanhã” da atriz, roteirista e estreante na direção, Paola Cortellesi, que trata de um momento delicado na Itália e na cidade de Roma, na luta pela liberdade das mulheres no pós guerra e pelos seus direitos de forma geral.
Foi um grande sucesso na Itália, superando em 2023 a bilheteria dos blockbusters “Barbie” e “Oppenheimer“, o que credencia esse filme a um novo fenômeno em termos de atenção dos cinéfilos para que seus encantos sejam conferidos.

Filmado em um límpido preto e branco, trata da história de Délia, uma dona de casa, mãe de 3 filhos, que além de passar as agruras do pós guerra, ainda tem que conviver com um marido abusivo e violento, interpretado por Valerio Mastandrea e ainda é obrigada a cuidar do seu sogro, um homem acamado, mas igualmente machista e abusador como o filho.
O único escape da Délia dessa vida tão difícil, é seu trabalho de costureira com o qual consegue juntar algumas economias, reler e esconder uma carta misteriosa para um objetivo que o filme desenrolará mais a frente que envolve sentimentos reprimidos e levam a um plost twist impressionante que é difícil até aos mais observadores perceberem.
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A vida nessa cidade é revelada com leveza e bom humor, contando com os personagens de sempre, a melhor amiga e confidente, Marisa, sendo a única mulher no filme que não é submissa, as fofoqueiras, os homens que vivem ao redor do bar e também alguns soldados americanos que fazem a “segurança” após a vitória dos Aliados no pós guerras e que ficam espalhados pela capital italiana.
Adiciona emoção a essa história, a luta e opressão de uma mulher comum, partilhada por muitas pelo mundo, contra uma realidade cada vez mais machista que infelizmente se estende além desse período do pós guerra, e chega até hoje com retrocessos legais pelo mundo querendo tolher direitos que já se imaginavam conquistados.
É de se admirar o esmero com que a roteirista e diretora no decorrer do filme, mostra as adversidades e pequenos triunfos dessa mãe e esposa para que sua filha adolescente, às voltas com um pretendente ao casamento e revoltada com a passividade de sua genitora, não repita seu destino, custe o que custar.
Durante o filme, há momentos inesperados e bem colocados do neorrealismo cinematográfico italiano envolvendo as agruras diárias da protagonista, outra boa surpresa da roteirista, diretora e atriz, ou seja, uma estreia para lá de promissora.
Além desse tema tão pesado e infelizmente atual do abuso doméstico, há temas sociais tratados com uma certa comicidade, parte da trajetória artística dessa artista em seu país de origem, que diz respeito à opressão e falta de perspectiva da mulher comum, frente ao patriarcado vigente nos países ibéricos e principalmente no pós guerra.
Um filme que tem graça, emoção, com algumas interpretações excelentes e outras nunca menos que honestas inclusive com atores amadores, que mostra uma nova forma do cinema italiano se mostrar ao mundo, com talento e sensibilidade, além de um esmero técnico raro para um(a) estreante: cenografia, fotografia e trilha sonora moderna(que foge do tom dramático comum em filmes com essa temática), tudo é muito bem realizado.
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Trata-se de um verdadeiro triunfo cinematográfico, que vale a pena assistir para sentir-se impactado(a), e é uma ótima opção aos blockbusters presentes em nossas salas de cinema, pois quando descobrimos o conteúdo da carta guardada com tanto cuidado pela protagonista, é que alcançamos toda força do potencial da história com um final resplandecente.
Agora é esperar e torcer para o que Paola Cortellesi pode nos trazer no futuro para nos surpreender.

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