Acreditando no carisma de “filmes com cachorro”, “Bom Menino” tem premissa interessante mas não vai além disso
De tempos em tempos algum diretor decide que quer reinventar a roda e pode ou não sair alguma coisa legal daí. “Bom Menino” (no original “Good Boy”) tem uma proposta no mínimo ousada: um filme de terror no ponto de vista de um cão — pelos céus, não façam mal ao bichinho! Mesmo esse quem vos fala não sendo um ávido fã do horror, fomos dar uma conferida, afinal, quem come de tudo não passa fome — mas as vezes passa sim…
Outrora bem elogiado nas prévias, “Bom Menino” tem uma fotografia interessante e acompanha mesmo o mundo pelos olhos do cachorro protagonista, Indy, que é de longe o astro do filme. Dizemo-lo porque este é o trabalho de estreia de Ben Leonberg dirigindo um longa, o que é visível; a despeito da técnica, falta personalidade na trama, e as atuações questionáveis são a cereja no clima de trabalho de conclusão de curso de cinema da UNIBAN.
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Na trama, conhecemos Tod (Shane Jensen), que, diante de uma crise, se muda para a casa da família que herdou de seu avô, há pouco falecido. É uma noite chuvosa quando temos os primeiros vislumbres de que algo não vai mal: fazendo a mudança praticamente às pressas, não sabemos a princípio o que o levou para o casarão.

Vem daí os primeiros sinais do grande mal que o herói canino deve enfrentar. Com audição aguçada e sensibilidade aos espíritos — como diz a crença popular — é apenas Indy quem percebe a presença oculta que observa a dupla nem tão de longe. Assim, mesmo à contragosto, o cão é forçado a sair na chuva para conhecer o novo lar. Mas não se preocupe, no corte seguinte seu pelo já está seco de novo (!).
Não fosse só uma questão de continuidade, parece que as atenções se voltaram todas para o ator animal. Os shots dos olhos açúcarados e preocupados de Indy são lindos, bem ao estilo “Coragem, o Cão Covarde”, mas fica por isso mesmo. O filme não consegue desenvolver uma atmosfera amedrontadora — mesmo. De vez em quando vemos alguns vultos, cenas de suspense que não progridem a algo, e, pior: o próprio longa vai de nada a lugar nenhum.
Enquanto somos apresentados à vizinhança, conhecemos mais detalhes acerca desse casebre na esteira dos clichês. Não bastasse querer se inserir nos filmes de point of view, há um quê de found footage e horror analógico (“A Bruxa de Blair”, “REC”) através das fitas do avô do protagonista (Larry Fassenden). Ótimo, uma urucubaca para enfrentar e a mera presença dessa casa é um veneno a Tod.
Contudo, isso já nos é dado nos primeiros minutos sem a menor cerimônia. Não é preciso muito esforço para juntar as peças pois a irmã de Tod, Vera (Arielle Friedman), já entrega tudo durante suas ligações, aflita pelo que pode acontecer com seu irmão — que acabou de voltar da rehab e decidiu se isolar no meio do nada.

Há vislumbres de coisas que podem acontecer, pistas falsas e que não empolgam muito. O terror se dá pela impotência na ação de Indy que é, infelizmente, o melhor personagem ator do filme. Os diálogos são excessivamente expositivos — sobretudo as sequências com Vera, sempre dois tons acima — e a atuação está no limite do canastrão.
Dá para segurar pela temática e pela relativa pouca duração, o filme dá um fio que curiosamente não costuma ser explorado no cinema live action — talvez, à sua medida, com “Olhos de Gato” (1985), do Stephen King — e empolga se o espectador projetar sua imaginação, mas não as expectativas.
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É uma pena à medida que especular o que poderia ter sido é bem menos interessante do que o acompanhar na prática — o que também é menos cri-cri — o saldo que fica, portanto, é de um filme de pouco mais de uma horinha pouco memorável mas que dá para levar o paquera de início de relacionamento para uns não-sustos na sessão de cinema e depois esquecer do enredo nos próximos trinta minutos.
Imagem Destacada: Divulgação/Paris Filmes

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