Um cineasta acredita criar uma obra-prima, mas, na verdade, entra para a história com “o pior filme de todos os tempos”. Por essa descrição, “Artista do Desastre” (The Disaster Artist), nova produção de James Franco, parece muito se assemelhar a “Ed Wood” (1994), dirigido por Tim Burton há mais de duas décadas. As coincidências, contudo, param por aí. Enquanto Edward D. Wood Jr., protagonista de Burton, fez da inventividade sua marca autoral, Tommy Wiseau, o “artista do desastre”, só ganhou destaque como objeto de ridicularização.
No lançamento da Warner Bros. da próxima semana, inspirado no livro homônimo, o tímido jovem Greg Sestero (Dave Franco) e o misterioso Tommy Wiseau (James Franco) mudam-se para Los Angeles em busca de um sonho comum: o estrelato. Frustrados com inúmeras rejeições em testes de elenco, resolvem produzir o próprio longa-metragem. “The Room” (2003), resultado dessa parceria, ganhou, desde então, status “cult” e atrai até hoje milhares de pessoas para sessões de meia-noite.
A estreia de Wiseau, conforme indicado, afasta-se radicalmente da de Ed Wood. Ao passo que “Glen ou Glenda” (Glen or Glenda, 1953) colocava em relevo temas como sexualidade e gênero já na década de 1950, “The Room”, realizado meio século depois, reproduz um discurso conservador e ultrapassado, muito condizente com a mente egocêntrica de seu criador. Outra marcante distinção consiste nos recursos à disposição dos diretores. Se Wood superou o baixo orçamento – 20 mil dólares, aproximadamente 180 mil na moeda atual – com soluções inventivas, Wiseau, por culpa de sua sua impressionante incompetência, gastou 6 milhões de dólares – cerca de 8 milhões se ajustados aos valores de hoje. A partir dessa comparação, podem-se perceber profundas diferenças entre as personagens de “Ed Wood” e “Artista do Desastre“, erroneamente misturadas em listas de “piores de todos os tempos”.
Ao contar a história de Wood, Burton celebrava, antes de tudo, a importância da sinceridade no fazer cinematográfico. A Franco, de outra forma, só resta rir de seu excêntrico protagonista. E isso ele faz muito bem. Em sua interpretação de Tommy Wiseau, o ator encontra a oportunidade perfeita para os excessos pelos quais ficou conhecido. Sua expressão corporal cria uma comicidade para além do roteiro, cujos diálogos apostam em algumas piadas pouco funcionais. Aquelas a respeito da diferença de idade entre Greg e Tommy, em especial, não se traduzem na aparência dos irmãos Franco.
Além de atuar, James Franco também assina a direção do longa-metragem. Nessa função, acerta, por um lado, na recriação das cenas de “The Room”. Seu trabalho com os atores, somado à direção de arte de Chris L. Spellman (“Superbad: É Hoje“) e ao figurino de Brenda Abbandandolo (“Traumas de Infância“), alcança resultados de grande fidelidade ao original. Por outro, no entanto, erra feio ao adotar uma postura condescendente em relação ao protagonista. Ainda que os roteiristas Scott Neustadter e Michael H. Weber – os mesmos de “(500) Dias com Ela” ((500) Days of Summer, 2009) – tematizem o tratamento abusivo de Tommy com as pessoas ao seu redor e tentem criar na personagem de Greg um contraponto dramático, o filme jamais abandona o tom cômico. Wiseau humilha a atriz Juliette (Ari Graynor) na frente da equipe, deixa a idosa Carolyn (Jacki Weaver) desmaiar de calor, mas nada disso parece problemático para Franco.
Apesar de perdoar as condutas desviantes de seu narcisista protagonista, “Artista do Desastre” tem seus méritos. Trata-se, afinal, de um filme feito com prazer por uma equipe de amigos – e isso se traduz na tela. Deve, portanto, agradar aos fãs de “The Room” e despertar curiosidade nos não familiarizados.
*O filme estreia dia 25, quinta-feira.
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