Uma crítica social com humor e cores fortes
No Dia dos Namorados, um homem e duas mulheres são atraídos por alguém que eles não sabem quem é para uma chácara deserta, onde, minutos depois, ocorre um crime. Esse é o mistério que conduz a peça “Abismo de Rosas: uma comédia policial”, em cartaz até 17 de dezembro, no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea. No elenco estão Emiliano d’Avila, Isabel Fillardis e Vitória Strada, que faz sua estreia no teatro.
A primeira montagem de Abismo de Rosas escrita por Claudio Simões foi feita em 97. Deu a Wagner Moura o prêmio Braskem de Ator Revelação em 98.
“Na minha carreira de 26 anos no teatro, ‘Abismo de Rosas’ é umas das melhores peças que já li; e eu tenho uma memória afetiva muito intensa com ela, porque eu também assisti. Naquela época, eu tinha apenas 11 anos, mas me lembro muito da sensação da experiência, foi muito mágico pra mim”, relembra Emiliano.
A partir dessa experiência, Emiliano manteve o objetivo de fazer uma nova montagem quando tivesse possibilidade. E décadas depois, com dedicação concretizou o objetivo: idealizou, produziu, e co-dirigiu o espetáculo com Júnior Vieira, que também está em cartaz nos cinemas com “Nosso Sonho”.
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Atualização do texto
Por ter sido escrita e montada na década de 1990, a peça sofreu algumas alterações no texto, principalmente sobre questões morais elaboradas por: Emiliano d’Avila, Natália Rosa e Vinicius Morais.
O texto é ao mesmo tempo, cômico e crítico, com várias pitadas de músicas conhecidas que dão um tom a mais. Ademais, é um roteiro que gera incomodo por fazer rir de situações muitas vezes dramáticas. Eis o grande trunfo das comédias.
Sobre a trama
A trama se desenrola a partir da narrativa dos fatos ocorridos 2 meses antes do encontro das personagens na Chácara onde ocorre um crime.
Vitoria Strada, Emiliano D’avila e Isabel Fillardis são os atores que dão vida a 6 personagens relacionados entre si. E discutem temas atuais como violência de gênero, relacionamentos abusivos, a descoberta da sexualidade e a importância do diálogo nos relacionamentos afetivos.
Personagens de Abismo de Rosas
Vitória é Lucinha/Cândida; Isabel é Elizabeth /Júlia; Emiliano é Juliano/Zé
Zé e Lucinha são casados e responsáveis por muitas risadas, devido como o desencontro de interesses e desejos deles é mostrada no texto. O que a leva a tomar uma decisão fundamentada nos acontecimentos que envolvem a vida do casal. Ela é secretaria de Elizabeth.
Elizabeth é uma psicanalista madura, que sempre foi a outra nos relacionamentos e se descobre lésbica ao se interessar por Cândida. Válido notar a crítica ao padrão de como é uma mulher lésbica, a psicanalista não ser totalmente equilibrada e é o único relacionamento em que há toque com cenas de beijos, abraços e falas sexuais.
Juliano é paciente de Elizabeth e casado com Julia. Ele é um advogado bem-sucedido. Simultaneamente, Júlia é professora de música que sempre busca ressaltar o quanto o ama, porém isso não é suficiente para ele. Atente para a sequência do concurso.
Um pouco das relações das personagens
Juliano e Júlia
Na visão de Juliano: Quem não ama, não mata. As sessões dele com Beth mostram o quanto a forma dele se relacionar com a esposa Júlia é tóxica e fica uma certa ambiguidade se ele tem consciência disso ou não. Em um dos momentos mais intensos da peça fica claro o tamanho do amor de Julia por ele, por meio de um ato extremo dela.
Beth e Cândida
Beth e Cândida formam um casal intenso, porém Beth tem dificuldades de aceitar a sua orientação sexual e sempre frisa para que a amada não a exponha. Em verdade não está preocupada com terceiros e sim consigo, pois Cândida além de bem resolvida com a própria sexualidade é provocativa e incisiva.
Lucinha e Zé
Mostram o quanto é importante haver espaço para escuta do parceiro. Além disso, enquanto Lucinha se preocupa com o mal-estar de Beth, que pode interferir em seu emprego, Zé tem outras prioridades. Também tenta provocar alguma reação de Zé, mas nem sempre tem sucesso. Consequentemente, isso abre uma porta para nutrir um amor platônico por Juliano e lhe mostra isso de forma surpreendente.
Destaques da montagem
O cenário, aparentemente simples, é um elemento crucial. Além das cenas, é nele que ocorrem as rápidas mudanças de roupa e transformações dos personagens
Na caracterização encontramos cores quentes, para ajudar na leveza ao tratar de temas difíceis. Cá entre nós, é impressionante como os atores trocam de roupa tão rápido (confesso que fiquei tentando descobrir os truques, mas não consegui – eis a magia do teatro).
A expressão corporal e vocal de todos está excelente. Ponto para as mudanças de voz, sotaque e postura.
Já a estrutura narrativa busca o tempo todo mostrar a cronologia dos fatos. Como não é linear, as trocas de personagens muitas vezes na mesma cena se torna um desafio para os atores e público.
“Abismo de Rosas” é uma comédia policial que nos faz refletir sobre quem somos nos nossos relacionamentos. Como bem disse o Emiliano ao cumprimentar o público no final: “Quem gostou volte, quem não gostou volte também porque não entendeu.”
Eu apenas acrescento: Quem não gostou é por que pode ter entendido e ficado incomodado e mais uma vez a arte faz o seu papel.
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