Hollywood tem por tradição criar obras que funcionam como mecanismos de auto-ajuda, trazendo histórias que são carregadas de lições de moral e ensinamentos que teoricamente ajudarão na vida do espectador. Todos os anos temos, pelo menos, um filme desse subgênero, e o novo representante é “Beleza Oculta”.
Nele, somos apresentados a Howard (Will Smith), um homem que está desiludido por causa de uma grande perda. Ele entra em depressão após a morte da filha e passa a escrever cartas para a Morte, o Tempo e o Amor. Howard, junto com seu amigo Whit (Edward Norton), possuem uma agência de publicidade de sucesso e que depende, em maior parte, do talento e carisma de Howard para conquistar clientes. Quando ele larga tudo para viver na reclusão, a agência entra em problemas financeiros. Whit, não conseguindo se comunicar com o amigo, bola um plano para materializar a Morte, o Amor e o Tempo por meio de três atores de teatro. O papel deles é confrontar Howard afim de fazê-lo despertar do luto, mas, também, para convencê-lo a vender a agência. Whit possui a ajuda de Claire (Kate Winslet) e Simon (Michael Peña).
A ideia de farsa criada pelo roteiro é interessante durante o primeiro e o segundo ato do filme, até porque cria alguns momentos de humor para amenizar o clima de tristeza criado pela fotografia e direção. O sombrio é acentuado pelas cenas passadas no apartamento de Howard, que não passa de um cubículo quase sem iluminação, e pelas inúmeras cenas de choro do personagem. Os encontros com a Morte, o Amor e o Tempo trazem um sopro de vida a Howard, o que é interessante, pois, até acontecerem ele havia se transformado em um publicitário que perdera a capacidade de se comunicar.
A vida do personagem desmoronou e ele não vê uma maneira de reconstruí-la; esse fato é explicitado pelas casas de dominós feitas por ele em suas raras visitas a agência. Ele passa horas construindo enormes estruturas, para depois simplesmente derrubá-las. Uma reconstrução que é cíclica, já que nunca consegue mantê-las em pé. Há também as cenas no grupo de apoio de pessoas que perderam filhos, onde Howard conhece uma mulher que também passa pelo mesmo sofrimento.
As vidas de Claire, Whit e Simon são mostradas em segundo plano em relação à trama principal. Claire que entregou a vida ao trabalho e não conseguiu formar uma família, Whit que precisa recuperar o amor da filha e Simon que possui uma doença grave. Essas outras histórias talvez não precisassem entrar no roteiro, já que não ajudam o personagem principal em sua jornada. Provavelmente só servem como justificativa para a escalação de elenco estrelar.Na verdade, “Beleza Oculta” não traz nada de novo, talvez porque não haja nada de novo para ser mostrado nesse tipo de filme. Com isso, há um excesso de clichês que fazem com que o espectador saiba logo no inicio o que exatamente vai acontecer no final. Há também a grande necessidade de criar momentos de emoção e de fazer seus atores cuspirem frases de efeito que de tão formulaicas passam a ser constrangedoras.
Will Smith se esforça para parecer convincente em um papel que necessita de uma enorme habilidade em se comunicar por meio da expressão corporal; não vou dizer que ele fracassou, mas não cumpriu a tarefa plenamente. Há alguns momentos que suas caras de choro fazem rir, talvez estivesse em meu subconsciente a série “Um maluco no pedaço”.
Mesmo as questões existenciais, como a ação do tempo em nossas vidas, (que, como mostrado no filme, Einstein provou ser uma ilusão), não são aproveitadas de forma aceitável. Tudo é jogado rapidamente em tela, sem que haja um momento de reflexão.
Mais rápido ainda é o terceiro ato, com todas as resoluções da trama sendo feitas com alguns poucos diálogos, parecendo que havia a necessidade de fechar o filme com um tempo de duração desejável para o mercado. Há também algumas inconsistências de cunho fantástico que não cabe dizer por aqui para prevenir spoilers.
“Beleza Oculta” possui boas intenções, mas não se estrutura para que elas sejam entregues de forma satisfatória. Acaba não sendo de todo ruim por causa do elenco que, mesmo não entregando grandes atuações, é querido de quem gosta de cinema.
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