O longa “Bratan” é um road movie soviético da década de 90 que conta a história de dois irmãos (um adolescente e uma criança). Eles pegam carona em um trem para visitar o pai, morador de um vilarejo afastado. Durante o longo trajeto, os dois fortalecem os laços fraternos enquanto conhecem inúmeros personagens e passam por algumas aventuras. Claro que, durante a viagem, eles terão várias lições de vida e também obstáculos, assim como acontece em qualquer road movie que se preze.
Contudo, há uma diferença do filme dirigido por Bakhtyar Khudojnazarov para os outros do mesmo tipo: a atmosfera. Ela foi desenvolvida para não parecer muito otimista com sua fotografia em tom de sépia, que além de dar um aspecto mais envelhecido às imagens, ainda gera um sentimento de tristeza no espectador. Para complementar a cor da fotografia, ainda há, no trajeto pelo qual o trem segue, os ambientes desérticos e as vilas com suas populações paupérrimas.
É difícil não sentir desolação em “Bratan” por causa desses elementos, mesmo que a intenção dos realizadores não tenha sido a de transmitir tal sentimento. Os alívios para a tristeza só vêm com as cenas cômicas protagonizadas pelo irmão menor. Ele, com sua curiosidade acima da média, consegue se envolver em inúmeras situações embaraçadoras. O carisma do ator é outro fator preponderante para a comicidade. Na verdade, atores, já que são dois usados para o mesmo personagem, o que é no mínimo curioso. No entanto, mesmo carismático, ele e seus companheiros de cena podem gerar estranhamento por causa das suas atuações. Eles são amadores que cospem diálogos como se estivessem ensaiando para uma peça teatral de colégio, o que mostra a incapacidade de Khudojnazarov na direção de elenco.
Tirando esses pormenores, “Bratan” é, acima de tudo, uma obra interessada no relacionamento entre os irmãos com o pai ausente, e também no caminho, físico e emocional, que eles terão que percorrer para que vivam como uma família. Trata-se de uma história inocente que não terá grande impacto na plateia, a não ser quando os já citados trechos tristes enchem a tela. Por fim, vale a pena conferir, ainda mais porque as cópias exibidas na Mostra de Cinema de São Paulo são restauradas. Além disso, não é sempre que um filme feito na antiga União Soviética é exibido nas salas de cinema.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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