A cantora Cássia Eller foi uma das maiores que o Brasil já teve. Sua marcante voz grave, o ecletismo musical e a atitude no palco e fora dele, marcou toda uma geração, especialmente a das meninas e mulheres que já estavam por aqui nos anos 1990, como eu. Buscando um resgate do legado da artista, o espetáculo “Cássia Eller, o Musical” apresenta alta qualidade técnica, um elenco inspirado e uma narrativa sensível. Confira a seguir a crítica desse belo musical:
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Cássia Eller era uma grande cantora, uma mãe, um ícone LGBT, mas acima de todas essas coisas, uma pessoa com enorme sensibilidade diante da diversidade que é a vida. O texto de Patrícia Andrade aborda com muita honestidade e respeito a trajetória de Cássia, desde o início da carreira musical em Brasília, passando pelos seus relacionamentos e parcerias e a relação nem sempre fácil com a fama e sucesso. Além disso, os momentos de dificuldade retratados são destacados na dose certa, de modo a não parecerem maiores que o brilho da artista.
A narrativa é embalada pelo melhor do repertório de Cássia, com execução primorosa dos músicos e do grande elenco, sob a batuta de Lan Lahn, que integrou a banda de Cássia por anos. É como se você estivesse num show da Cássia Eller, com ajustes mínimos nas composições para encontrar o lugar na dinâmica teatral. É impossível para uma fã, como eu, não se emocionar em diversas passagens. Para além do êxtase do público com “Malandragem”, tocam fundo na alma “Nós”, “Relicário”, e “Segundo Sol” onde todo o elenco canta para uma cadeira que simboliza o vazio deixado com a partida de Cássia. De arrepiar.
Além da direção musical, elenco é a grande força do espetáculo
A direção da dupla João Fonseca e Vinicius Arneiro privilegia a simplicidade, que também era uma característica de Cássia Eller. São apenas cadeiras, músicos e atores interagindo, sem uma coreografia propriamente dita, mas em movimento de composição e recomposição do espaço à medida que a narrativa avança, marcando as transições.
De todos os méritos de “Cássia Eller, o Musical”, o maior de todos, talvez seja o protagonismo indiscutível de Tacy Campos. Cada piada, trejeito e olhar nos enche de alegria e dá uma saudade enorme desse ser humano singular que foi Cássia Eller. O trabalho vocal é impressionante. Porém, o restante do elenco completa o show fazendo um excelente trabalho de interpretação de múltiplos personagens. Com destaque para Eline Porto como Maria Eugênia e Jandir Ferrari que interpreta o pai de Cássia, um empresário e um produtor.
Alguns podem argumentar que o espetáculo não se aprofunda em certos dramas pessoais de Cássia. Contudo, ao final do espetáculo de mais de duas horas sem intervalo, saímos com o coração aquecido. E uma saudade imensa de sua presença física neste plano. Como diz Pericles Cavalcante: “Eu poderia ser um escritor na moda / De quem se fala muito mal e ele nem se incomoda / Eu poderia ser um alto funcionário / Um balconista ou um bandido sanguinário… E não há nenhuma outra hipótese / Que eu não considere, mas / O que eu queria mesmo ser… É a Cássia Eller.”
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