Antes de qualquer análise sobre “Como está Katia”, é preciso expor o sentimento desolador que aflora quando assistimos atualmente a um filme vindo da Ucrânia. É triste ver na tela, mesmo que de forma encenada, a vida funcionando em cidades que hoje estão, boa parte delas, em ruínas e desabitadas. E como o dia a dia comum de suas populações foi substituído pelo terror da guerra. Durante a projeção, o espectador mais sensível pode até temer pelo destino daqueles atores e cineastas. Será que algum deles foi vítima dos invasores russos? Será que agora viraram soldados e estão no meio da batalha?
Bom, torcendo para que todos estejam bem, falemos especificamente do filme. “Como está Katia”, dirigido por Christina Tynkevych, é sobre a médica socorrista Anna, que é mãe solteira e trabalha para sustentar a filha, a mãe doente e, sobretudo, para guardar dinheiro para pagar seu apartamento, que está em construção. No entanto, um evento traumático tira a sua vida dos trilhos, fazendo-a seguir por caminhos um tanto quanto obscuros.
O roteiro de Natalia Blok e Julia Gonchar usa a desgraça de sua protagonista para discutir a sociedade ucraniana e o seu sistema “uma mão lava a outra”, bem conhecido dos brasileiros. O aparato jurídico, policial e político do país europeu está completamente dominado pelo poder do dinheiro. Contudo, Anna não parece disposta a entrar no jogo sujo, e busca a todo custo tomar atitudes éticas. O problema é que ela está sozinha em suas convicções, já que todos a sua volta caminham para o lado oposto.
Esse isolamento da personagem é bem representado pelas escolhas narrativas feitas por Tynkevych e seu diretor de fotografia Vladislav Voronin. Os planos usados são próximos ao rosto de sua atriz, e mesmo quando a câmera se afasta, a profundidade de campo é limitada pelo desfoque das lentes. Batentes de portas também a aprisionam, seja em sua casa ou no trabalho. Além disso, ainda há o frequente desespero de Anna, que é potencializado por planos-sequência feitos, em boa parte das vezes, com a câmera na mão.
Com tudo isso, o longa ucraniano é bem sucedido narrativamente e ainda consegue propor uma reflexão existencial sobre o preço da vida, que parece não valer nada recentemente. Para a Ucrânia, trata-se de um assunto muito importante, ela estando em paz ou em meio a uma guerra.
“Como está Katia” foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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