Depois de “Arca Russa” e “Francofonia: Louvre Sob Ocupação”, Alexander Sokurov apresenta seu mais novo filme ensaio com “Conto de Fadas”.
Sempre interessado em temas históricos, o autor russo agora se volta aos ditadores Benito Mussolini, Josef Stalin e Adolf Hitler. Há ainda um não ditador, mas que foi uma figura importante durante a segunda guerra mundial: Winston Churchill. O encontro entre eles se dá em uma espécie de limbo. Esperam, portanto, para ir ao inferno ou ao céu. Jesus também está presente, aguardando junto dos outros, o chamado do pai.
Com seus breves setenta e oito minutos, “Conto de Fadas” não possui uma trama. Ele é um recorte de diálogos entre esses personagens que acontecem em um cenário belamente trabalhado por Sokurov. Ele usou técnicas de animação em um preto e branco envelhecido que faz com que uma pintura a óleo tome vida através de um expressionismo que remete, por vezes, ao quadro “O Grito”, do norueguês Edvard Munch. A semelhança com a obra de Munch é mais evidente quando uma massa de almas é mostrada vagando por estradas entre vales. É possível ver, mesmo entre as faces deformadas, suas expressões de desespero.
Além de ser tecnicamente impressionante — afinal de contas Mussolini, Stalin e Adolf Hitler parecem que voltaram à vida — o ensaio é a exposição das motivações de homens que tiveram um papel preponderante na moldagem da sociedade europeia e mundial. Fica evidente que foram, acima de tudo, suas frustrações, que influenciaram as tomadas de decisões. Por causa disso, é possível compará-los aos líderes modernos e constatar que os fantasmas que assombravam o passado continuam presentes, confirmando que a história sempre se repete.
O Limbo no qual esses personagens se encontram é, portanto, algo merecido. Nem Deus, muito menos o Diabo os aceita em seus domínios. Agora, a pergunta que vem à tona é: o que Jesus e Churchill fazem em meio aos ditadores? Jesus, como símbolo de uma religião, parece realmente esquecido. Todos, durante a segunda guerra e atualmente, falam em seu nome, porém praticam atos que não estão de acordo com seus ensinamentos. Churchill, por sua vez, possui várias versões no filme. Há o soldado puro que luta pela liberdade de seu país e o Primeiro-Ministro que enviou seus soldados à morte. Ou seja, um homem preso por não ser definido como bom ou mau.
Por fim, “Conto de Fadas” é uma obra quase investigativa que tenta descobrir o que há na essência da alma humana, independentemente se ela pertence a um Führer ou a um político. Trata-se de um trabalho difícil de se fazer, mas Sokurov não só consegue ter suas respostas como acerta no processo para chegar até elas.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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