Segundo a medicina, a febre do mediterrâneo é uma síndrome causada por fatores genéticos, e é mais comum, evidentemente, em pessoas originárias do mediterrâneo, como os árabes. No filme de Maha Haj, o filho do protagonista sofre, aparentemente, com as crises dolorosas dessa síndrome. Mas a doença em “Febre do Mediterrâneo” é usada simbolicamente para discutir a situação de palestinos que vivem em um território ocupado pelas forças bélicas de Israel.
A história segue Amer Hlehel, um aspirante a escritor que cuida da casa e dos dois filhos enquanto sua esposa trabalha. Ele sofre de depressão, e pensa constantemente em suicídio. A situação psicológica do personagem é, acima de tudo, por conta da situação política de seu país, já que ele leva uma vida confortável em um espaçoso apartamento à beira mar.
Sempre em crise, o homem se sente ainda mais deprimido quando vê as notícias políticas pela TV. A situação muda, no entanto, quando ele ganha um novo vizinho, Jalal (Ashraf Farah), que é uma pessoa leve e descompromissada, sem se preocupar com o conflito entre Palestina e Israel. Os dois se tornam amigos, mas Hlehel possui um propósito muito específico para essa amizade.
É clara a intenção dos realizadores de construir uma contradição política entre Hlehel e Jalal. Um está extremamente incomodado e o outro completamente conformado. Um não consegue viver, o outro vive intensamente. Com isso, abre-se a discussão sobre a percepção do povo palestino sobre a sua própria realidade. Talvez haja alguns que simplesmente não querem lutar pela liberdade ou, contrariamente, há os que preferem morrer do que viver na situação em que se encontram.
Outro aspecto a se pontuar é que, mesmo que o conflito entre os países seja o tema, quase não há momentos de violência durante a projeção. Na verdade, as pessoas vivem suas vidas normalmente, ignorando a opressão que está próximo a elas. Parece que é apenas Hlehel que se importa, o que o faz reviver diariamente o sentimento de que algo está sendo destruído, internamente e externamente.
“Febre do Mediterrâneo” então segue seu protagonista em um clima de tristeza quase que completo (o humor só aparece quando Jalal está em cena), e seu desfecho abre vários caminhos para que se comece a discutir ainda mais a crise palestina, principalmente quando ela começa a afetar psicologicamente o povo daquele país. E esse é um tema deveras importante.
Este filme foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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