Está na hora de apostar até a loucura mais uma vez! Kakegurui Twin, a prequel da série original, chegou à Netflix!
Adaptada de mangá homônimo, os fãs devem esperar uma adaptação relativamente fiel do spin-off, o que não necessariamente é uma boa coisa… Essa crítica não contém spoilers.
De volta à Hyakkaou
A premissa de Kakegurui é simples, e quem está um pouco mais calejado de assistir anime deve reconhecer alguns elementos da história. Adolescentes com inteligência sobre-humana? Um colégio cheio de sociopatas que decide tudo na base de jogos de azar? Um conselho estudantil ridiculamente poderoso e tirano? Aconteceu na quarta-feira comigo.
O porquê de Kakegurui ser tão bem sucedido entre seu fandom fiel, ainda por produzir conteúdo sobre a animação anos após seu lançamento, não é exatamente um mistério.
Se colocado em poucas palavras, Kakegurui é um show camp; exagerado, esteticamente pretensioso, vulgar e sabe rir de si mesmo. Pela mesma razão, se o shounen de apostas por excelência divide opiniões apaixonadas, seu ponto forte, a irreverência, torna a experiência desprazerosa para alguns.
Falando de linha do tempo, Kakegurui Twin não é diferente da série principal na sua estrutura episódica.
A protagonista chegou à escola, possui um talento fenomenal para o trambique, vai superar seus oponentes na própria trapaça e virar seu colégio, erguido sobre a opressora hierarquia do conselho estudantil, de ponta cabeça.
Durante cada mini arco, que dura um capítulo ou dois, a heroína se envolve em alguma aposta extremamente desfavorável, mas isso não a impedirá de desmontar a armadilha preparada para si com sua própria maneira de fazer jogos mentais.
A primeira mudança que os já familiarizados com a história devem perceber é a caracterização de Mary Saotome, que assume o papel de Yumeko Jabami irá assumir um ano mais tarde (Kakegurui – 2017).
Enquanto o público foi originalmente apresentado a uma garota maníaca, egoísta, sádica, mas com um bom coração lá no fundo, a Saotome primeiranista de Kakegurui Twin é seu total oposto.
Saotome é insegura, demonstra sua fraqueza bem mais que Yumeko, e provou ser interessante e capaz de brilhar no próprio show, contudo, a mudança para uma personagem menos enérgica e insana que Jabami retira um pouco da energia que tornava o suspense de Kakegurui (2017) mais cômico.
Ao que nas redes sociais algumas críticas se dirijam à mudança da personalidade de Saotome entre as duas obras, isso compreensível, afinal, o espectador acompanhará como é que Mary se tornou alguém tão insensível e dura, o que não é desculpa para trazer uma personagem visivelmente menos comovente.
Apostar… até a loucura?
Com apenas seis episódios, a trama deixa um gosto agridoce ao seu término. É ótimo que os fãs tenham um momento para respirar e consumir material novo animado, mas tão pouco?
Adaptando até o capítulo 14 do mangá (atualmente no capítulo 81.5), a história deixou em suspenso acontecimentos mais interessantes que poderiam trazer mais consistência ao anime, que ao fim soa como um amargo “poderia ter sido”.
A própria personalidade de Saotome não ajuda, e isso não é um problema da adaptação, que vai muito bem, aliás. Isso porque, como já mencionado, a protagonista possui seus truques de gênio, mas não aquilo que fazia Kakegurui, o original, excelente, e que está expresso no próprio título: a mania pela aposta.
Enquanto Yumeko é indomável e completamente “fora da casinha”, Saotome é contida e, embora seja ácida, seus adversários não são botados contra a parede pelo medo de uma perfeita lunática. Falta brio, potência, caretas se contorcendo, sexualização levada ao ridículo… enfim, loucura.
Artisticamente MAPPA
É complicado elogiar o estúdio MAPPA, um dos mais prestigiados e tradicionais do Japão, pelo trabalho bem feito.
Primeiro, pelo histórico de denúncias trabalhistas trazido à imprensa, sobretudo nos últimos meses — todavia, algo que parece, infelizmente, generalizado na indústria de animação.
Em segundo lugar porque seu currículo está cheio de “obras primas”, o que deixa a discussão até num lugar comum — para citar alguns, Sakamichi no Apollon, Shingeki no Kyojin, Vinland Saga, Dororo.
Dito isso, o trabalho do MAPPA continua primoroso e consegue transmitir a energia vivaz do original, entretanto, as habilidades de seus animadores já foi melhor explorada nas temporadas do original, o que não necessariamente se deve à direção de arte.
Já na trilha sonora, a escolha por uma abertura inteiramente instrumental é algo que não estamos acostumados a ver — ousado, mas interessante para um show voltado todo para a adrenalina; o encerramento tampouco fica para trás.
Conclusão
Kakegurui Twin é… Kakegurui, ou ao menos algo de seu tipo. É um trabalho interessante, mas que deixa a desejar no conteúdo, seja por falhas que poderiam ser corrigidas com uma primeira temporada mais robusta, como exibindo problemas já presentes no original — e aqui a culpa se volta à protagonista.
É fã obcecado por Kakegurui? Você provavelmente iria assistir isso, independentemente desta review. É alguém que gosta desse estilo debochado de brincar com o gênero suspense? Talvez se decepcione com as escolhas de roteiro.
Friamente, não é um dos melhores títulos do estúdio. E, no balanço geral, fica a esperança de uma nova temporada que não deixe o vazio que essa deixou.
A recomendação geral é: caso seja marinheiro de primeira viagem, é melhor começar pelo anime de 2017 que não há erro — e, daí, quem sabe dar uma chance, assistir e perdoar seu irmão mais novo e menos carismático “Kakegurui Twin”.
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